quarta-feira, março 08, 2006

Balanço do consulado Sem paio

Confrangedoramente institucional. Cinzento cinzentão, como Eanes. Sensaborão. Irrelevante, portanto. Ou indiferente, como preferirem. Bastas vezes penoso para a base eleitoral que o elegeu, reiterando uma tendência da política actual de desfazamento preocupante entre contrato eleitoral, base social de apoio e acção concreta.
Lembram-se dos seus discursos redondos ao Parlamento e às tv's? De tão obtusos e aflitivamente conciliadores não beliscavam ninguém. Era vê-los aos governantes, no dia seguinte, a repescarem a parte do sermão que os absolviria. Por isso, e pela sua absoluta falta de timing, os discursos caíam sempre em saco-roto. O filme era tristemente previsível: a tal «magistratura de influência» sossobrava a cada nova tentativa de reanimação, por visível défice de autoridade.
Dito isto, discordo do director do Expresso ao responsabilizá-lo pela pior década presidencial do pós-1974: o PR em Portugal não é o factor essencial, mas sim o governo, a conjuntura económica e as elites.
Ficou, porém, aquém do que podia e devia: basta recordar a sua corrida a Fátima (para ultrapassar Guterres na recepção ao Papa João Paulo II); o acatamento da sucessão irresponsável Barroso-Santana, que implicou a demissão do político socialmente mais apoiado de então (Ferro Rodrigues) e hipotecou por muitos anos a possibilidade dum líder socialista social-progressista; a incapacidade em substituir um Procurador da República reiteradamente irresponsável, que deixou instrumentalizar politicamente o caso Casa Pia e que o humilhou pessoalmente ao não apurar responsabilidades internas quanto ao «envelope 9» no prazo ditado; a sua fixação no golfe "para o povo" e na selecção de futebol; as comendas a eito e para as elites; o boné ridículo de basebol.
De positivo, refira-se a sua luta por Timor-Leste livre, a sua preocupação com temas centrais (políticas e coesão sociais, educação, saúde, reformas da política e justiça, etc.), a visita a todos os concelhos do país, a criação e o labor do Museu da Presidência. Certas propostas suas foram muito boas e deviam ter sido mais reflectidas pelos governantes e media: combate prioritário à corrupção e à fraude fiscal, remoção do garantismo ao serviço dos poderosos, responsabilização disciplinar de agentes administrativos por falhas graves, extensão do segredo de justiça aos jornalistas, etc..
Atropelou incrivelmente a questão do ordenamento do território ao dizer que o desenvolvimento é-lhe prioritário, enterrando assim o desenvolvimento sustentável num país refém do betão.
Foi uma espécie de Guterres sem beatice e sem obrigações executivas.
Em suma, uma oportunidade perdida de reforço progressista.

PS: bem gostaria de ter exagerado, mas, em cima do acontecimento, é a síntese mais imparcial que me ocorre.

1 Comments:

Blogger Daniel Melo said...

E mais essa, na qual muitos portugueses 'pantufeiros' e o «papa-hóstias» tiveram especial responsabilidade.
O risco era tornar o texto um estendal.

10:01 da manhã  

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