quinta-feira, junho 22, 2006

Da incapacidade de certo jornalismo de aceitar a crítica

Não, dr. João Morgado Fernandes, a polémica em apreço não é sobre o acesso aos media, finta para a qual tenta desviar as atenções, mas sim sobre a possibilidade de terem ocorrido conflitos de interesses em alguns casos recentes no jornalismo cultural e político português, 2 deles envolvendo o seu jornal (DN), questão novamente levantada pelo João Pedro George, secundado por Jorge P. Pires, Eduardo Pitta, João Pedro Henriques, Carlos Leone e eu próprio (vd. links aqui). A minha opinião está aqui e aqui, tendo neste último post aproveitado para referir o grau exagerado de filtragem existente na imprensa lusa, sintoma para mim evidente de conservadorismo opinativo e político das elites lusas e de falta de capacidade de debate. Por isso, não é de admirar que vários jornalistas tenham que se 'sacrificar' para, simultaneamente, dar notícias, comentá-las em colunas de opinião ou crónicas, fazer blogues, recensear livros dos amigos, opinar sobre os outros e escrever livros! É que não há mais ninguém no planeta Terra, coitados...
No seu novo post, em mais um gesto corporativo, diz o seguinte: "Ele há gente - é a sério, li há dias num blogue - que questiona a legitimidade dos directores para definirem os conteúdos que os seus jornais publicam (!!!)".
Sendo esta atoarda demagógica dirigida a mim (embora não o diga, claro, um dir.-adjunto não pode misturar-se), devo dizer-lhe o seguinte: se numa instituição está tudo concentrado numa pessoa isso é centralismo, dirigismo. A democracia implica descentralização de responsabilidades, daí os jornais desdobrarem competências por subdirectores, editores, chefes de redacção, etc.. Mas, pelos vistos, isto é muito vanguardista aí no DN, mas só para livros, estou a ver.
Quanto a conluios académicos anti-imprensa, falha totalmente o alvo, até porque Jorge P. Pires e JPH são jornalistas, além do Provedor do próprio DN, José Carlos Abrantes, que tb. se pronunciou e até sugeriu correcções, pelos vistos caídas em saco roto. Se há "capelinhas universitárias" em Portugal? Por cá há capelinhas em todo o lado, agora, partir daí para insinuar dependências materiais entre os académicos que estão nesta liça ("Não haverá capelinhas universitárias? Dependências mesmo? Interesses económicos até?") fica-lhe muito mal, pois sabe melhor que eu que o assunto não tem nada a ver com isso. Aliás, somos todos de instituições distintas e concorrentes, e não bebemos bica juntos. Mais: quem se expõe deste lado da polémica corre até o risco de ser prejudicado pessoalmente caso haja maus fígados do outro lado, como tb. muito bem sabe. As suas fintas são só para desviar a atenção, não é?
No último par.º usa mais um truque demagógico: não questionem os media clássicos, nós não cometemos erros, vão mas é escrever para a blogosfera. Ora, a questão não é essa, mas sim tomar a imprensa de referência como um dos eixos do espaço público, e, consequentemente, um dos mais susceptíveis de serem investidos criticamente pela opinião pública e pela cidadania informada e democrática. Daí a crítica exigente não só da política como da imprensa, etc., mas tb. o recurso à imprensa para construir o debate informado (muitas vezes recorri ao DN para enquadrar e aprofundar certos assuntos, e vou continuar a fazê-lo, independentemente de achar que o DN e alguns seus responsáveis estão a errar nesta questão). Tão-só isto.
Por cá, algum jornalismo assemelha-se à magistratura: tem muita dificuldade de aceitar a crítica. Tudo previsível. Só não percebo uma coisa: se acha a opinião de pessoas como eu inútil ("Enfim, uma carreira de dislates com as quais obviamente não se deve perder tempo."), porque é que perde tempo em réplicas?

2 Comments:

Blogger João Villalobos said...

Caro Daniel,
Convido-o a ler o post que escrevi sobre o tema no
www.corta-fitas.blogspot.com

Abraço

10:20 da tarde  
Blogger Daniel Melo said...

Caro João Villalobos:
Já fui ler o seu post, e subscrevo-o inteiramente.
Refiro-me a ele num novo post (http://fugaparaavitoria.blogspot.com/2006/06/joo-morgado-fernandes-no-pas-dos.html), porque entretanto fomos contemplados com nova cartuchada do inefável sr. Morgado Fernandes.
Não me diga q tb. faz parte dessa quadrilha-sinistra-de-académicos-anti-imprensa-pesadelo-de-avestruz?

Saudações bloguíticas, Daniel Melo.

PS: aproveitei e inseri 1 link para o seu blogue na nossa barra lateral.

4:16 da manhã  

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