segunda-feira, janeiro 30, 2006

Matar ou não matar

Um casal à saída de Match Point, de Woody Allen:

Ela: Ai, ai, vocês homens são terríveis... são mesmo uma desgraça!
Ele: Podes estar descansada querida... eu seria incapaz de matar alguém.

domingo, janeiro 29, 2006

E ontem foi dia...


... daqui do "levezinho" bisar. E foi bonito pá.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Mitos contemporâneos

«O país necessita de sangue, suor e lágrimas. Sócrates sabe disso, e ninguém como Cavaco para explicar ao país as vantagens do sacrfício.» Constança Cunha e Sá, Sábado, 26.01.06
Sempre gostava de saber como se criam estes lugares comuns. O que é que autoriza, na biografia política de Cavaco Silva, a pensar que ele é o homem dos sacrifícios? Estamos a falar do político que derrubou o Bloco Central do apertar do cinto, que governou o país no período de maior abundância e quando ela acabou saiu ligeirinho deixando o partido nas mão de Fernando Nogueira depois de ter transformado o país numa coutada laranja. Cavaco pode ser um homem austero, mas nada indica que esteja fadado para a austeridade.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Caldinhos de galinha e outras sopas...

Anda por aí um zum-zum que diz que esta vitória de Cavaco (repito e sublinho, esta) era inevitável. A conclusão que se tira a seguir é, basicamente, a de que nem valia a pena ter acreditado, ou intervindo minimamente, em nada que contra ela fosse.
É mau que assim se pense. E os resultados, como se vê, até o provam. Convém dizer que algumas sondagens chegaram a dar mais de 60% ao professor. Ora 50,6% é bastante inferior.
A questão não era, pelo menos nesta primeira parte (que se revelou também a última), vencer Cavaco. Tratava-se tão somente de adiar a decisão, e isso, vimo-lo bem, só não se conseguiu por algumas décimas. Fica pois a pergunta: um tom menos fratricida entre as duas campanhas «socialistas» não teria originado outro resultado, mais do contento geral das esquerdas e que não nos deixasse a caldinhos de galinha nos próximos cinco anos?
Eu sei que agora, aqui, já entra o Sr. Sócrates. Mas isso é outra sopa...

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Coisas que não se entendem

Quando Mário Soares sugeriu que se devia estabelecer uma plataforma de diálogo com os terroristas, José Manuel Fernandes teve um ataque de horror. Pelos vistos passou-lhe. O lider do Hamas na palestina tem hoje direito a uma entrevista de uma página no Público a que se segue um editorial pouco menos que laudatório do próprio JMF em detrimento da corrupta Fatah. O que se segue? uma reportagem na Pública sobre as férias dos hetarras?

terça-feira, janeiro 24, 2006

Desalinhados talvez, mas ainda assim...


É este o alinhamento do cd/dvd ao vivo, a editar esta semana na Europa e EUA, pela Tuition e pela Yep Records respectivamente. Ou seja, pelo menos no concerto nada de Cattle and Cane ou The House Jack Kerouac Built, entre outras.

1. Black Mule (4:36)
2. Clouds (2:18)
3. Boundary Rider (2:58)
4. Born to a Family (3:20)
5. Streets of Your Town (3:50)
6. Here Comes a City (3:32)
7. Draining the Pool for You (6:29)
8. Finding You (3:55)
9. Spring Rain (3:31)
10. Was There Anything I Could Do? (2:51)
11. Surfing Magazines (6:24)
12. The Devil's Eye (2:16)
13. Too Much of One Thing (6:29)
14. People Say (2:54)
15. The Clock (4:49)
16. Karen (7:42)


Mas mesmo que o alinhamento surja um tanto ou quanto desalinhado com as expectativas, não desanimemos. Um dos extras do dvd consiste em cerca de 60 mins de uma sessão acústica em que Forster e McLennan interpretam, com histórias pelo meio, mais algumas das canções do songbook Go-Betweens (e são já 30 anos de cantigas, como diria o Carvalheda não é?). Aqui fica a lista:

Sunday Acoustic Session:

Lee Remick
Cattle And Cane
Part Company
Bachelor Kisses
Head Full Of Steam
Bye Bye Pride
Dive For Your Memory
German Farm House
Too Much Of One Thing
Here Comes The City
Finding You


Lá está ela, Cattle and Cane. E como se não bastasse, uma das pérolas de Forster, raramente mencionada diga-se, Part Company, ou ainda Bachelor Kisses, Head Full of Steam e Dive For Your Memory.
Em suma, aguarda-se salivando.

Nova gerência, velhos métodos, a mesma fé*


*é favor clicar na imagem da caixa registadora

domingo, janeiro 22, 2006

O futuro é tão brilhante que têm de usar óculos escuros

Lobo Xavier lançou mão de toda a sua argúcia analítica esta noite na SIC. No seu entender, a estratégia do CDS/PP foi brilhante. Ou seja, resignar-se ao desaparecimento durante uma batalha presidencial é, para o ilustre comentador, nada menos que brilhante. Nesse sentido, poderia ter feito justiça também ao PNR e à Nova Democracia, igualmente brilhantes. É a isto que o partido de Lobo Xavier e Nogueira Pinto está reduzido.

Caprichos

Maria José Nogueira Pinto lança atoardas umas atrás das outras na TVI. Lobo Xavier, na SIC, outras tantas. Sobretudo, para ambos, conta a derrota e os problemas dela decorrentes para o PS de Sócrates. Não comento. Aliás, seria difícil fazê-lo até porque não ouvi Ribeiro e Castro pronunciar-se durante a noite. Eu sei que sou chato, mas gostava de o ter ouvido. Provavelmente até nem tenho razão, eu sei, afinal de contas estas eram apenas umas míseras eleições presidenciais, matéria menor portanto, sendo natural que não mereça comentários ao presidente do segundo maior partido da direita portuguesa, até há poucos meses «o» partido charneira da democracia portuguesa. Só que gostava mesmo de o ter ouvido. Chamem-me caprichoso, pronto.

Amanhã...

É praticamente certo que Soares tenha terminado hoje o seu longo historial de combates eleitorais. Fê-lo com uma derrota. Antes deste resultado vinha de grandes, enormes vitórias. «As pessoas não gostam de vencedores», dizia-me um amigo hoje. Talvez. Ainda assim, fica o exemplo de como deve ser entendida a combatividade política em democracia, vindo de alguém que não tinha nada a ganhar para si nesta luta. Mas também, como demonstrou no discurso final, nada a perder. Ou antes, só esta luta. Só que amanhã, com certeza, haverá outras, e se o seu exemplo frutificar, como creio, então essa será já outra vitória. Mais uma para o velho Soares.
Mas isto aqui acima é pouco pessoal. Pela minha parte, na verdade, serei curto. A única coisa que desejo dizer-lhe é isto: obrigado.

O poder de um lema

«Nunca tive dúvidas». Popular saudando a vitória de Cavaco Silva.

Elogios inesperados ao PS

«Temos um governo que aumentou os principais bens de consumo, congelou os ordenados da função pública, fechou centros de saúde em plena campanha eleitoral e criou uma situação muito difícil para qualquer candidato» Fernando Rosas, SIC Notícias.
Em suma, não fez demagogia, não é Professor Rosas?

Lições

Não se pode inventar um candidato. Mário Soares não era o candidato «natural» em 2006. E o oportunismo de escolher o candidato mais forte revelou-se a maior fraqueza do PS. Dito isto, Mário Soares deu uma das maiores lições de combatividade às gerações mais novas (sim, estou a pensar em Guterres, Vitorino ou Constâncio) de que me lembro, e mostrou que o combate é uma causa por si só.

Lá para os 81 está no ponto

«O professor Cavaco Silva evoluiu muito humanamente». Katia Guerreiro,SIC Notícias.

Primeiras reacções

Aparentemente, no PSD estão todos muito felizes porque o candidato que fez o favor de aceitar o seu apoio venceu. Como tal, gritam «PSD, PSD, PSD»...

sábado, janeiro 21, 2006

Amanhã

Amanhã, certamente, todos iremos votar de acordo com a consciência. E claramente, há homens que fizeram mais por isso do que outros. Alguns deles estão entre os candidatos. Entre eles, no entanto, um se distingue dos demais.

Soares está para o século XX português como mais nenhum outro político do burgo. Falem do que quiserem – oposição ao Estado Novo, 25 de Abril, democratização do regime, redemocratização do regime, descolonização, entrada na CEE – da história recente do país e o seu nome é inescapável. Para o bem e para o mal, esteve lá, no núcleo do turbilhão, lutando por aquilo em que acreditava sem medo nenhum de o fazer. Não andou escondido para vir mais tarde, ao sabor da imaginação, inventar ficções de participação cívica, como faz Cavaco Silva. Em tempo de democracia não se acomodou, como Alegre, a um regime pasmado que lhe concederia vida certinha à sombra de um estatuto anti-fascista.

De Alegre recordam-se facilmente as aparições na televisão quando havia cheias em Águeda e... pouco mais. Ele lembra, no entanto, que antes da democracia propriamente dita passou tempos em Argel. Claro que sim, claro que os passou, ninguém diz que não. Não quero “diabolizar” a campanha de Alegre. Afinal, ele defende um património de valores que eu preconizaria em grande parte, sem qualquer espécie de prurido. No entanto, parece-me que a formulação de algumas questões, até de cunho auto-justificativo para a própria candidatura, não tem sido a mais feliz. Sobretudo tem sido falsa, completamente em desacordo com a realidade da sua vivência nos trinta e um anos de democracia que o país leva. Isso afasta-me dele, certamente e sobretudo porque tenho outro socialista em quem votar, que não tem de reinventar a todo o momento razões para a sua condição de candidato.

Depois há Jerónimo e Louçã. O primeiro, depositário da notável história de resistência e luta de um partido que por isso aprendi a admirar: o PCP. O outro, talentoso político sem dúvida, e, queira-se ou não, uma reserva para a esquerda nacional do futuro. Mas ambos, hoje, cumprem outra agenda, de cariz partidário, onde o exercício da Presidência não cabe. Trata-se, digamos, de uma corrida lateral.

Há portanto Soares, Alegre e Cavaco. Pragmaticamente é isto que há. Não olhando a mais nada senão à estatura política dos homens em causa, só há uma escolha possível. Nem preciso nomeá-la. Cavaco foi primeiro-ministro de Portugal durante dez anos e tem o desplante de falar do estado das coisas como se não tivesse contribuído para o mesmo. Imbuíu-se a si próprio de uma aura salvífica que sabe não comportar, e à qual não poderá minimamente corresponder. Não tem, pois, qualquer pejo em enganar os eleitores. Nem sou eu que o digo, mas sim, o absolutamente icansável e nesta matéria insuspeito, Pulido Valente.

Um dos traços essenciais pelos quais o calibre de um Presidente deve ser medido é o da participação social e política. Ora nesse aspecto, Mário Soares leva sessenta anos de vida activa. Nós sabemos o que ele pensa sobre o que mais interessa às nossas vidas. Soares é um exemplo. Inventou, teve de inventar, uma oposição ao regime antes de 74. Fê-lo contra o PCP, o então imenso Cunhal, e a extrema-esquerda, onde ruminavam tantas excrescências que hoje controlam a opinião no país, desde logo José Manuel Fernandes e José Pacheco Pereira. Soares combateu-os a todos. Fundou um Partido Socialista em 73, que inventou também praticamente sozinho. Sem peso cá dentro, procurou os socialistas europeus para esse reconhecimento. Negociou depois a descolonização da única forma que a esquerda europeia poderia aceitar, e fez bem. No período quente do nosso pós-25 de Abril, foi essencial para hoje sermos o que somos: uma democracia que aspira a melhores condições de vida, mais justiça, solidariedade e prosperidade. Soares deu-lhe, e deu-nos, horizontes, e faremos deles o que quisermos e pudermos. Assinou a nossa entrada na UE, então CEE, e mais uma vez, com esse gesto, um precioso acto para acalentar esperanças mais sólidas. Ser de esquerda, da esquerda portuguesa do último quarto de século, é estar com Soares. Mas mais, ser progressista, de esquerda, de centro ou até de direita moderada, nos últimos vinte e cinco anos, é estar com Soares. Por isto e muito mais, Cavaco e Alegre não são comparáveis. E é pouco mais o que interessa nestas eleições. O resto são questões menores, de cariz partidário, mesquinho, pequeninas, que não deveriam interferir na eleição para o mais alto cargo da magistratura da nação.

Posso especular sobre o que fará o PR depois de eleito. Mas tenho, antes disso, de avaliar o que fez para merecer o meu voto. Tenho de tentar perceber o que é, antes de mais como homem, no que acredita, como concebe a vida em democracia, como participa nela, como convive com a crítica, como se informa, que valores defende e como os expressa perante todos. Desta massa se faz, a meu ver, um PR. A todas estas questões, quer esquivando-se à maior parte delas, quer respondendo, por palavras ou por actos, de forma insatisfatória a outras tantas, Cavaco torna a minha escolha muito simples. Não tem humor, não tem poder de encaixe, não tem flexibilidade alguma, não tem historial de participação social e política que se possa medir de forma continuada (apenas alguns impulsos – um dos quais, admito, lhe agradeço), não tem estatura humanista nem cultural, é frio e distante, chegou a dizer que “nunca se engana e raramente tem dúvidas”, ou que “não lê jornais”, não se compromete com nada de forma genuína (há quem diga que é estratégia – e vivem bem com isso?, pergunto). Tudo somado, revela um desconforto relativo à vivência em democracia que não pode ser nunca, jamais, componente basilar do perfil de um PR.

O passo inseguro de Cavaco não nos pode envergonhar. Nas mais altas circunstâncias, em que um PR tem de se mover, Cavaco acanha-se. Por feitio, por insegurança, por timidez, seja lá pelo que for. Não o censuro. Ele não tem a estatura humanista e cultural que se exige a um PR. Sabe-o, e isso revela pelo menos uma coisa: clarividência em relação às suas limitações. Façam pois um favor ao país. Não votem Cavaco. E dito isto, digo mais, façam até esse favor ao próprio Cavaco.

Para terminar, cito Rui Ramos, ideólogo da «nova» direita: “Um dia far-se-á justiça a Mário Soares. Compreender-se-á então que ele foi o mais formidável e o mais bem sucedido líder que a esquerda portuguesa teve em duzentos anos de história. Muito provavelmente, a direita a que temos direito há-de ser a última a compreender isso”*.
Ora nós, que não somos de direita, já o deveríamos ter compreendido há muito. E amanhã devíamos prová-lo.

*in Ramos, Rui (2004), Outra Opinião, Ensaios de História, Lisboa, O Independente Global e Rui Ramos, p. 153.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Perplexidades

Foi uma campanha bonita a de Cavaco, cheia de verde e vermelho, lindas fadistas e muita conciliação nacional. Só não percebi aquela ideia constantemente repetida: porque querem eles romper a Bruna?

quinta-feira, janeiro 19, 2006

The Killing Moon

terça-feira, janeiro 17, 2006

A coerência do cinéfilo português

«O Crime do padre Amaro» é o filme português mais visto de sempre. Conta a história da paixão carnal de um padre por uma mulher num cenário de tráfico de droga. Sucede na liderança a «Tentação» um filme sobre... a paixão carnal de um padre num cenário de toxicodependência.

Contra o preconceito

Brokeback Mountain, título da mais recente obra de Ang Lee, promete. Por onde tem passado, tem sido aplaudida e aclamada pela crítica. Versa, ao que parece, sobre uma verídica história de amor entre dois cowboys. Assim sendo, é bem vinda até como mais um impulso na luta contra o preconceito. É que ainda há quem pense que um western é uma mera cowboyada, em vez de cinema a sério.

Sim, mas de qual?

Cavaco Silva: "Conheço muito bem as competências do Presidente"

Cantar faz bem mas...

Cavaco cantou o Grândola. Deve ter dado uma trabalheira decorar a letra da canção à pressa agora para a campanha. Ainda assim, há uma coisa que me descansa: neste piscar de olhos aos eleitorados de campos opostos, dificilmente veremos Soares a cantar João Pedro Pais.

Think Global, Act Local

Imbuído do espírito "não perguntes o que o teu continente pode fazer por ti, pergunta-te antes o que podes fazer pelo teu continente", decidi dar o meu contributo à luta pan-europeia contra a gripe das aves. Ontem almocei pato com laranja. Pelo menos aquele parreco já não dá cabo de ninguém.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Uma memória doce

Entretanto, na TV, têm sido inúmeras as oportunidades para rever os gloriosos dias, vai para doze anos, em que os habitantes de uma pequena aldeia gaulesa se revoltaram contra o aumento das portagens da Ponte 25 de Abril. De um lado, armas, cães, batalhões treinados para distribuir porradaria a eito. Do outro, um grupo de gente trabalhadora em luta. Não exagero ao dizer que esta é a minha recordação mais doce do Prof. Cavaco. Dias gloriosos em que a desobediência civil bateu forte nos empedernidos corações da nação. O professor tem, creio, esse dom: desempedernir almas. Ao lado dele, afinal, todos parecemos infinitamente humanos.

Venha outra

Regressado à pátria de cinzentos e gélidos bustos sepulcrais beijados por poetas, deparo-me com mais uma careta do Sr. Professor Doutor Cavaco Silva (mas este bem vivo, até prova em contrário), em resposta a uma pergunta de uma jornalista sobre as declarações de Santana. Estando fora, quando soube que Santana ia falar, adivinhei as suas palavras. Não é preciso ser particularmente inteligente ou sequer observador para saber ao que vinha. Mas o Sr. Prof. Doutor, assim como assim, e mesmo já depois da referida entrevista, mostrou aquilo que é: um robot. Um robot com a elasticidade de uma bigorna de ferro maciço com 16 toneladas de peso. Aquela reacção é um espanto. Aquilo nem se percebe. Acaso não esperaria a pergunta? Como se justifica uma expressão daquelas? O que lhe passou pela cabeça? Será que falhou alguma coisa na máquina da campanha, para deixar uma jornalista disparar assim uma pergunta à queima-roupa, não programada? O professor entrou em loop, fez um reset, e lá voltou ao sorrisinho de rotina. E pronto... venha outra.

sábado, janeiro 14, 2006

Eram de um sobrinho arrumador de carros

Em cinco anos‚ Isaltino de Morais depositou 680 mil euros em notas e moedas.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Ponderação e náusea

É um dos poucos consensos disponíveis no cenário político português: há muito que o procurador já devia ter sido demitido. Toda a gente sabe disto‚ sobretudo ele. Mas este é um país muito inducadinho onde toda a gente confunde ponderação com bloqueio. O presidente‚ do alto do seu sentido de responsabilidade‚ nada fez. O governo‚ cheio de complexos por causa do PS e da Casa Pia‚ fez nada. Os comentadores - se perguntados se isto é um atentado ao estado de direito - dizem que essa é uma expressão demasiado forte. Temos um procurador que influenciou decisivamente o curso dos acontecimentos políticos no último ano e meio. Temos um ministério público que se põe a mostrar listas de fotografias a adolescentes às quais só falta a cara do Papa. Temos‚por fim‚ uma lista de mais de uma centena de figuras de primeiro plano (incluindo o presidente eo presidente da Assembleia da República) que viram as suas chamadas registadas sem que se perceba a relação dessa diligência com o processo. Resultado? Um enorme nada. O Procurador é demasiado teimoso para se demitir. Os outros (Sócrates e Sampaio)‚ demasiado polidos para atitudes enérgicas. E nós vamos agradecendo por cada dia que passa sem que‚ com muita falta de educação‚ Marrocos ou a Espanha não se lembrem de entrar por aqui a dentro e nos mostrem que as nossas instituições são espectros e que na verdade não existem. Alguém notaria alguma diferença?

quarta-feira, janeiro 11, 2006

O Coiso

«O coiso» lá tinha de entrar na campanha. Tudo corria demasiado bem à direita e até já se estranhava que o «coiso» andasse tão caladinho. Anteontem à noite já estava na SIC Notícias a dar bitaites sobre sarilhos institucionais sem saída. A possibilidade de Cavaco domesticar todo aquele espaço político estava a tornar-se uma evidência demasiado insuportável. Ora o «coiso» lidera. Pode não saber para quê mas lidera‚ é mais forte que ele. Para além disso‚ o «coiso» sabe que o tempo comunicacional acelerou e hoje os exílios políticos duram só um nadinha. Portanto‚ esta orfandade que inclui a direita anti-cavaquista do PSD‚ actualmente transformada em ursinho de peluche‚ e aquele pequeno «outro partido que apoia» Cavaco são um terreno demasiado apetecível para ficar vago ou entregue ao sumo-sacerdote. Venha pois o «coiso» que afinal nunca deixou de «andar por aí» e já que a esquerda não está nem aí‚ sejamos práticos e deixemos o «coiso» fazer estragos.

terça-feira, janeiro 10, 2006

É bom ver o país a mexer...

domingo, janeiro 08, 2006

A campanha de Mário Soares

A campanha de Mário Soares faz-me pensar no Alqueva. Não por Soares ser um elefante branco – o investimento que o país fez nele já foi pago várias vezes –mas por a campanha em si representar uma grande oportunidade perdida, um empreendimento de elevado custo deitado a perder por uma aparente incapacidade básica de pensar estrategicamente.
Isto dito assim parece o cúmulo da arrogância, e talvez seja. Soares, o mestre supremo da política, não sabe estratégia? Obviamente, ele sabe. Mas não seria a primeira vez que comete erros elementares numa eleição presidencial. Em 1985, a sua opção original, mantida até relativamente tarde, foi dirigir toda a campanha ao centro, para apanhar votos a direita. Se alguns amigos mais avisados não tivessem conseguido finalmente convencê-lo a falar para a esquerda na primeira volta (entre outras coisas, foi preciso uma derrota clamorosa do PS numas legislativas), hoje em dia Freitas do Amaral não seria ministro dos negócios estrangeiros do governo Sócrates, porque já teria sido outra coisa.
Na campanha actual, Soares emprega um estilo de ataque: provocações mais ou menos constantes a Cavaco, tentando provocar-lhe reacções danosas. Talvez resulte. Mas também pode ser, e parece mais plausível, que Soares tivesse mais a ganhar em manter uma pose de antigo presidente, reservando os ataques para temas “de substância”.
Aqui e ali surgem indícios de que ele se apercebe do problema. No início do último debate, mencionou a experiência de Cavaco como primeiro-ministro. Sendo este o principal argumento com que se apresenta o candidato apoiado pelo PSD e pelo «outro partido que o apoia», é lógico ir por aí; atacar o ponto forte, em lugar de ficar pelos pontos débeis, que contam pouco. Uma opção clássica em campanhas eleitorais, sobretudo quando se enfrenta um candidato em situação de vantagem.
Infelizmente, Soares desbaratou o tema. Em vez de o explorar como devia, preferiu ataques pessoais. E assim se perdeu uma oportunidade de usar tudo o que foram as falhas de Cavaco, aliás manifestas no facto -- hoje em dia oficialmente reconhecido, e sofrido -- de Portugal não ter aproveitado da melhor forma a adesão à CEE. Se Cavaco fala em atacar a corrupção, não seria natural referir, por exemplo, a corrupção generalizada que acompanhou a chegada dos fundos europeus? Toda a gente sabia que muito do dinheiro entregue às empresas, e não só, estava a ser desviado dos seus fins legítimos. Que fez o governo a esse respeito?
Quando Cavaco compara os índices de desenvolvimento de Portugal e Espanha, utiliza um argumento que devia surgir na boca de Soares. Tendo Cavaco sido primeiro-ministro durante esses cruciais dez primeiros anos, porque é que o país não se desenvolveu como a Espanha? O poder oficial relevante, na altura como hoje, era o do governo. Para quem já não se lembra, Cavaco na altura prometeu um país novo, e, mais do que isso, um homem novo. Claro que as promessas dos políticos não têm de ser levadas a letra. Nalguns casos são sobretudo estratégias de mobilização nacional (e enquanto tal, bem intencionadas, pois visam propiciar e dispor ao progresso). Mas havia nas de Cavaco um inegável compromisso: confiem em mim, que eu mudo o país. Ora a verdade hoje em dia constatada é que o país, após conceder-lhe duas maiorias absolutas, ficou igual a si mesmo, no mau sentido.
Mesmo que Soares não queira acreditar nisso -- afinal, é um optimista incorrigível, e a adesão europeia foi em boa parte obra sua, e ele também esteve no poder, como presidente, durante esses cruciais primeiros dez anos, e o PS também molhou a sopa, e não pouco – com certeza haveria aí matéria para glosar com proveito. Argumentos nessa linha, bem trabalhados (condensados em duas ou três perguntas manhosas, fáceis de compreender por toda a gente e difíceis de responder pelo adversário: que indústrias inovadoras se criaram em Portugal durante esse tempo? Que fez o senhor para ajudar a criá-las?) podiam ter efeito.
Em vez disso, Soares prefere distinguir o homem financeiro – Cavaco -- do homem humanista, solidário, etc -- ele próprio. Isso terá ou não base factual, mas não é um grande argumento para utilizar, sobretudo nesta altura. As pessoas sabem que a questão importante é o desenvolvimento, não ser culto ou ter vagas pretensões socialistas. De resto, mesmo neste último particular Soares não goza de especial crédito, por nunca ter sido, ao contrário de Cavaco, um exemplo ostensivo de frugalidade.
O comportamento de Soares sugere uma renúncia a pensar em profundidade os argumentos, de elaborar uma estratégia e a cumprir disciplinadamente. Em lugar de ideias eficazes (correctas ou não; a demagogia nunca prejudicou ninguém tão experimentado como Soares), bem formuladas e sempre presentes, temos os velhos acessos temperamentais do ex-líder do PS. Por melhores que sejam ou tenham sido os seus instintos, e por mais consoladas que fiquem algumas pessoas, não é a forma de dar alguma esperança a quem gostava mesmo que Cavaco não ganhasse. Ainda por cima, Soares parece já não ser capaz de controlar muito o que diz. Ao longo dos anos, os seus hábitos de expressão pouco finos -- o seu lado ordinário, para falar directamente -- foram ocasionalmente referidos por um ou outro ex-insider, mas em público ele mantinha um certo verniz, mesmo quando usava argumentos baixos (contra Sá Carneiro ao falar de Snu, contra Zenha aludindo ao psiquiatra). Agora esse lado surge à luz do dia, e o público não gosta, conforme se viu pelas reacções ao debate com Cavaco.
A campanha soarista faz-me lembrar o Alqueva por todo o investimento que tanta gente nela faz, e pela inutilidade aparente e irritante do mesmo. Dirigir uma campanha não é só aparecer e falar, por mais alto que se fale. É preciso saber bem o que se vai dizer, e porquê. A menos que se conceba a campanha como um último exercício de auto-indulgência, o que francamente custa a crer. Afinal, se há coisa de que Soares sempre gostou, foi de ganhar.
Talvez a idade lhe tenha feito o mesmo que a tantos outros masoquistas, tornando-o preguiçoso. Ou talvez, muito simplesmente, ele já não seja capaz. Em qualquer caso, para fazer isto mais valia não andar em campanha.

Luís Coelho

quinta-feira, janeiro 05, 2006

A sério!? olha, ninguém diz.

«Um defeito que eu tenho é ser auto-convencido.» Cavaco Silva, entrevista na SIC.

Ele será mesmo um ser humano?

«Não digo qual é o meu escritor preferido porque como possível futuro presidente posso melindrar os outros.», Cavaco Silva, Idem.

terça-feira, janeiro 03, 2006

E os portugueses isto e os portugueses aquilo e ainda aqueloutro e muito mais ainda...

No Prós e Contras de ontem, mais uma vez a Sra Doutora Maria Filomena «five o'clock tea» Mónica babou-se discorrendo, apopléctica, sobre as incompetências da nação. Sempre que pode, para parecer que sabe do que fala, larga uma datazinha para impressionar pacóvios. Os outros, muito certinhos, muito atinadinhos, não parecem ter coragem para a contradizer. Enquanto isso a Sra Doutora Maria «my fellow citizens are so damn stupid while I'm so damn good» Filomena Mónica descomanda-se num chorrilho de atoardas reaccionárias que deixam mal, antes de tudo, a própria academia, que ela tanto diz representar. Pobre academia. E pobre nação que anda com estas elites às costas, estas elites que se insurgem contra a educação. Ainda por cima a dita senhora, no que à matéria ontem em apreço dizia respeito, não estava preparada nem para uma conversa daquelas à mesa da tasca, quanto mais para um debate de prime-time televisivo. Só para arrumar a questão, nenhum cientista que se preze, social ou outro, pode largar baboseiras do género "os portugueses são isto ou os portugueses são aqueloutro" sem fundamentar minimamente o que diz. Faltas destas, vindas da Sra Mónica, que passa a vida com o mérito na boca, não se perdoam. Demérito pois para quem ontem debateu com ela, sendo tão pouco incisivos para com um discurso mal estruturado e facilmente rebatível.

Pobre, talvez não, mas mal agradecido, certamente.

Cavaco Silca continua o seu número de independência súbita. Agora critica os candidatos que têm apoios financeiros partidários. Eu se fosse um dos poderosos empresários que o apoiam ofendia-me com tanto desprendimento.

domingo, janeiro 01, 2006

Mensagem de ano novo

Sopram bentos adversos.
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