sábado, abril 29, 2006

Glicínia Quartim, a experiencialista (1924-2006)

A RTP2 acabou há um pouco de repôr o excelente documentário «Conversas com Glicínia», de Jorge Silva Melo, interrompendo a programação prevista e com um rodapé com as datas extremas do título deste post. Suponho que tenha falecido, embora não tenha conseguido confirmar nos sítios informativos.
Fica-nos um documentário que nos devolve a voz da biografada, filha do anarquista Pinto Quartim. E o seu corpo, aquela combinação de cores fortes, o lilás, o verde e o azul, as expressões, a forma de falar, a forma de estar, o envolvimento expressivo na descrição humorada, por fim, a gargalhada livre e espontânea.
Tudo isso Glicínia Quartim fui gradualmente dominando e moldando à sua interpretação, ela que via o teatro como uma série de experiências, marca que lhe ficou da sua formação em Biologia.
Fica no ouvido aquela forma de dizer o idioma, cuidada, culta, com vagar.
Fica-me na memória a última peça onde entrou, «Terrorismo», dos Irmãos Presniakov, encenada por Jorge Silva Melo para os Artistas Unidos no Teatro Taborda. O seu à-vontade, a sua graciosidade, uns 80 anos de invejar, numa memorável peça mordaz.
Vale a pena seguir o seu percurso singular e independente na biografia que acompanhava essa peça.
O teatro português merece que lhe demos mais atenção, tão esquecido tem sido por nós, já é hora de pôr de lado o preconceito injustificado de que em Inglaterra é que é, quando quem lá vai é para fazer comprar, ver exposições e ir a concertos. Por mim, saturei de tanta repetitiva imagem em movimento, é preciso ver pessoas de carne e osso à nossa frente a convocarem a praça pública nos nossos quotidianos para voltar a sentir de nova a magia de estar vivo, da memória, do trabalho da linguagem, da ideia e da interpelação. É todo um mundo que se abre diante dos nossos olhos...

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

será que morreu de supônhamos? confirme-se

4:21 da tarde  
Blogger Daniel Melo said...

Infelizmente, confirmo o seu passamento:
"A actriz Glicínia Quartin faleceu, a 2: presta-lhe homenagem"
(vd. http://195.245.179.232/EPG/tv/epg-dia.php?datai=&dia=28-04-2006&sem=e&canal=8&gen=&time=).

7:39 da tarde  
Blogger Daniel Melo said...

Não posso deixar de aditar que mais nada encontrei sobre o assunto.
Temos tantas notícias em Portugal que as temos que substituir imediatamente.
E, sobretudo, convém falar só do Portugal sentado, da politiquice.
Do futebol e das telenovelas.
O resto é paisagem.

7:42 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A PAISAGEM VAI EMPOBRECENDO

10:53 da tarde  
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1:29 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Minha mãe é prima-irmã da Glicínia Quartin; moramos no Brasil, e, por vêzes, as notícias nos chegam com um pouco de atraso. Soube do falecimento de Glicínia na semana passada. Poucas vêzes tive o privilégio de estar em sua companhia, mas muuito me marcou a sua personalidade forte, a sua alegria, e o carinho com que nos recebia. Foi uma grande perda, tanto particular, quanto para o teatro.
Paulo Roberto Viana Feijó - Brasil

1:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A Glicinia era a pessoa doce e culta que transparece dos seu olhar.
Foi minha Professora e Amiga.
Uma 'cientista-artista' como não há muitos. Esteja onde estiver, o meu abraço.

12:32 da manhã  

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