terça-feira, julho 18, 2006

O beco sem saída de Blair (impressões de Londres V)

Para finalizar o balanço do consulado de Blair falta avaliar a sua política externa. Numa evolução normal, esta apenas ficaria nos anais da política local, mas 1 facto inesperado surgiu: a decisão de envolver o seu país nessa perigosa aventura bushista de invasão do Iraque. Pior: Blair alinhou cegamente com os falcões de Washington, fraccionando a Europa e o mundo dum modo perigoso e adiando o aprofundamento europeu. O Reino Unido continuou a sua política ambígua de jogo em 2 tabuleiros (EUA e Europa), comprometendo o reforço da União Europeia enqt. interlocutor internacional e dinamizador da paz e da democracia, do desenvolvimento sustentável, do comércio justo, e exemplo de espaço de bem-estar para todos assente em Estados-providência com programas de protecção social básicos.
Blair aceitou ser o Iznogoud de Bush, célebre personagem duma BD que fazia de frenético grão-vizir servidor do califa de Bagdad. A única diferença é que Blair nunca ambicionou ser califa no lugar do califa, apenas manter-se grão-vizir (mas não desgruda, já vai no 3.º mandato e, apesar da crise política e moral em que envolveu o seu partido, está agora no jogo do diz-que-dá-lugar-a-outro-mas-não-dá).
Como hoje se sabe, e na altura muitos denunciaram, a invasão do Iraque foi um embuste, não havia qualquer ameaça séria qt. às apregoadas armas de destruição massiva, não houve qualquer empenho consistente em democratizar o Médio Oriente, a guerra civil larvar instalou-se no Iraque (e, possivelmente, na Palestina e no Líbano), o terrorismo fundamentalista islâmico encontrou novo élan para a sua intolerância destruidora, a autoridade democrática foi corroída com sequestros selvagens (em Itália), com casos de tortura (no Iraque e nos voos da CIA que sobrevoaram a Europa) e desrespeito por convenções internacionais (a de Genebra, no caso de Guantánamo). O objectivo era dar um sinal de quem continuava a mandar no mundo, independentemente da existência dum problema real e grave no terrorismo religioso. Porém, foi pior a emenda do que o soneto.
O unilateralismo discriccionário vingou, em prejuízo do multilateralismo e da concertação de esforços nos fóruns próprios, como a ONU e os tratados internacionais, além de ter ajudado fortemente ao bloqueio dum espaço, o europeu, que poderia ter contribuído para alternativas válidas, consensuais e construídas.
Daí que o balanço da política de Blair só possa ser defraudante.
(c) cartoon de Steve Bell, «Allowed on the couch» (The Guardian, 2006).

1 Comments:

Blogger Daniel Melo said...

Pese embora o seu modesto impacto internacional, seria injusto não referir as reformas constitucionais que levou a cabo (criação do parlamento escocês e da assemb.ª galesa, posto de mayor londrino, etc.), bem como a Paz na Irlanda do Norte.
Estes foram factores de progresso democrático, mas que não alteram o balanço final duma década.
De Blair esperava-se mais e, sobretudo, que não desbaratasse o compromisso pela paz que tanto esforço custara no caso irlandês com uma adesão aventureira e profundamente imprevidente no atoleiro do Iraque.
Ademais, teve uma ocasião única para tomar a opção política que as trocas comerciais e culturais vão evidenciando: o compromisso com o aprofudamento político-social europeu, numa Europa mais solidária, inclusiva e promotora de concertações globais reguladoras e pacíficas.

11:55 da tarde  

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