CPE- marcas do tempo que passa (2)
O questionamento da sociedade de consumo foi feito pelo Maio de 68, por muito que custe a quem pretende cingir este movimento a uma birra de jovens parisienses pelo acesso aos mesmos brinquedos dos congéneres baby-boomers dos EUA (rock, magazines, jeans, etc.). Aliás, tal estava implícito na noção de alienação do filósofo Herbert Marcuse (vd. The one-dimensional man: studies in the ideology of advanced industrial society, Boston, 1964, cuja tradução fr. de 1967 vinha sendo comentada precisamente em Nanterre, o epicentro da revolta estudantil), uma das referências maiores da juventude soixante-huitard (uma boa reflexão actualizada pode ser lida neste texto de Paul Seff).
É um problema que se mantém actual e que tem tido respostas em distintos níveis: normativo jurídico (direito do consumidor e da regulação), sociedade civil (cooperativismo, mutualismo, movimento do comércio justo, etc.) e grupos político-cívicos, sobretudo de esquerda (associativismo voluntário, incluindo de defesa do consumidor, teoria do desenvolvimento sustentável, intervenções políticas pró-regulação do mercado, das empresas e do Estado na sua relação com os consumidores, os utentes e os cidadãos).
Aqui no Fuga tb. já houve contributos valiosos para esta reflexão central a uma contemporaneidade cívica e com ética social.
O CPE foi mais um contributo de peso, ao desmascarar a lógica neoliberal selvagem, assente na desregulação das normas laborais, na subordinação do factor trabalho, na aposta em baixos salários, em suma, impondo uma sociedade consumista e segregadora. Agora fica em aberto o debate quanto à definição da questão laboral no novo milénio. Passámos do consumo à produção, parece um retorno ao século XIX, será possível?
(c) foto de Tiago Maia, Paris, próximo da Place de la République, 1-4-2006
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