Prós e Contras
Não tenho por hábito assistir ao Prós e Contras, mas devo dizer que o bocado que vi do programa da semana passada valeu a pena. Refiro-me aos últimos vinte minutos, aproximadamente, nos quais João César das Neves esteve no seu melhor, defendendo a ideia de que a grande causa de uma suposta decadência da Europa é a erosão dos valores, com a despenalização do aborto à cabeça. Não se tratasse a questão de algo que é permitido na maior parte dos países mais avançados da UE, em alguns casos há dezenas de anos, ao contrário de Portugal, e quase nos faria crer que isto cá no burgo é que está bom.
Quando por acaso liguei para o canal 1 da RTP e apanhei o fio à meada das ideias que ali se discutiam, não pude deixar de assistir, incrédulo, àquilo. Como é possível que em 2006, já na segunda metade da primeira década do século XXI, ainda no principal canal televisivo de um país ocidental se discutam aquelas questões daquela forma? Foi de tal maneira impressionante que ao lado de César das Neves o cardeal D. Saraiva Martins parecia um hippie preconizando o amor livre nas margens do Ganges em 1968. Só uma coisa, um pequeno detalhe, pôs alguma ordem na confusão em mim gerada por aqueles minutos de discussão. O tal cardeal, a quem me disseram que Fátima, a apresentadora, chamou solenemente «o padre dos santos», estava com a voz visivelmente afectada, o que o forçava a emitir de vez em quando uma espécie de sons que, caso eu fosse mauzinho, diria assemelharem-se a zurros. Ou seja, de repente haveria fogachos de normalidade, um pregando e outro zurrando, e ainda assim seria difícil perceber qual fazia menos sentido. Mas como não sou mauzinho, não o farei.
Bom, entretanto do outro lado da barricada estavam António Barreto e Fátima Bonifácio. Portanto com um painel destes nunca se sabe onde poderão ter havido campos de alargado consenso. Como já disse, não vi o programa todo. Adianto no entanto, à laia de exemplo, que mesmo no final o cardeal apelou à magnanimidade de Fátima, a Bonifácio, para invocar uma espécie de juízo-quase-fé sobre a adopção de crianças por casais homossexuais, perguntando-lhe se também ela não achava que uma criança deve ter pai e mãe. Fátima pôs os olhinhos mais «valhanosdeusnossosenhor» de que foi capaz e acalmou o âmago de D. Saraiva, dizendo-lhe que sim, que também para ela uma criança precisava de paizinho e mãezinha para crescer sã. Viram-se assim goradas, suponho, as expectativas daqueles que defendem que as crianças devem crescer órfãs, e terminou mais um suposto debate sobre uma suposta decadência da Europa (???).
Não gostaria de terminar sem dizer que se aceitam sugestões para temas e painéis de próximos programas. Porque não por exemplo «Os três grandes do futebol português», com Pôncio Monteiro, Miguel Sousa Tavares, Pinto da Costa e Carlos Calheiros como convidados? Ou então «A esquerda em Portugal», com Rui Ramos, Luís Delgado, Pacheco Pereira e Paulo Portas no painel? Ó Fatinha, pensa nisto filha.
2 Comments:
APOIADO!!!!!!!!!
LOL ;)
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