Homi Bhabha, o debate aberto e a ética global
Um dos pensadores mais influentes da actualidade, Homi Bhabha, conferencia hoje na FCG (aud.º 2, 18h30). É uma boa oportunidade para ouvir um indiano parsi, formado em Oxford e investigador de Harvard falar da globalização como transição, dos seus erros e virtualidades. Aproveita-se para respigar ideias relevantes por si expostas em recente entrevista a Alexandra Lucas Coelho (Pública, 8/X).
Sobre o despropósito do termo «choque de civilizações»:
"Argumentei contra o uso do conceito «choque de civilizações». Antes de mais, porque não acredito que as culturas tenham antagonismos regionais ou essenciais. Podem existir sistemas de crença distintos, noções muito diversas de hábitos e práticas, mas não acredito que as culturas continuamente se querem opor ou erradicar. [..] Os antagonismos [..] devem-se a decisões políticas, a matérias geográficas e políticas, à história."
Sobre a intromissão do religioso na política:
"Numa situação em que temos migrações em grande escala, refugiados, movimentos populacionais, uns «media» que quando estamos em Boston nos levam para Bagdad e Bombaim diariamente, quanto temos tanto desenraizamento, perigo e transição, é muito importante, em conjunto com um sentido de racionalidade, ter um sentido de emoção, de ética, que fale à nossa imaginação, que dê um sentido de pertença. A linguagem do regresso a Deus também tem que ser vista no contexto dessa falta."
Sobre as ameaças do securitismo à democracia:
"em muitos países da Europa e nos Estados Unidos há uma quantidade de leis ou novos procedimentos parlamentares que têm impacto nos nossos direitos civis. Sabemos que no mundo de hoje, em que por razões de segurança é considerado importante deter ou prender gente, os direitos humanos estão a ser desafiados. [..] Tudo isto definitivamente lança uma sombra sobre a democracia."
Das alternativas ao securitismo:
"Como podemos ser mais transparentes num[a] situação de ansiedade e terrorismo? Bem, juglo que a democracia requer que as pessoas participem nas decisões tomadas pelos líderes. Julgo que temos tido muito menos transparência do que poderíamos, e por isso violámos um dos primeiros princípios da democracia, o debate aberto. Defendo que um tempo em que há situações de emergência tem que ser um tempo em que haja possibilidade de debate. A democracia [..] é a possibilidade de debater o que é legítimo ou ilegítimo."
Sobre a dúvida e a ética globais:
"A «dúvida global» permite ver e questionar os desenvolvimentos da globalização. Não significa ser negativo em relação à globalização, mas permite-nos ter uma visão equilibrada, perguntar, por exemplo, como é que num país como a Índia temos Bombaim ou Bangalor, muito avançados tecnologicamente, e isso não muda o facto de a literacia ser muito pobre, de as infraestruturas serem muito pobres. Permite ver onde estamos e onde deveríamos estar. Dá-nos uma visão ética, das responsabilidades, da justeza, e é a base de uma ética global."
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