terça-feira, outubro 31, 2006

Blogues históricos, pois claro!

Chegou finalmente o que o estimado leitor, aí, desse lado do écran, ansiava há muito tempo: uma nova listinha, sim, mas de blogues de História!
Pois é, esse dia chegou, radioso, só com material luso, porque o tempo é escasso e é preciso valorizar o produto nacional, caramba. Aqui vai, então:
>Antigamente...: expõe excelentes digitalizações anotadas de postais antigos (do início do séc. XX);
>Blogue de notas de História: Rui Prudêncio arranca com perfis biográficos oitocentistas e recolha de extractos de fontes primárias (por ex., sobre a história das bibliotecas no séc. XVIII);
>Cartas Portuguesas: Luís Bonifácio recolheu aqui a correspondência de republicanos, com excelentes digitalizações de cartas e outros objectos relacionados;
>Coisas de outros tempos: com reproduções de iconografia do Estado Novo e seu enquadramento temático (de Resendes);
>Companhia de Moçambique: retratos do passado colonial, com grande qualidade gráfica (2003-5);
>Estudos sobre o comunismo: abrangente repositório de materiais para o estudo desta temática, pelo incansável J. Pacheco Pereira (c/lista de links);
>Heródoto: arqueologia e divulgação histórica de todos os períodos (c/lista específica de blogues para ambos os itens);
>Mania dos quadradinhos: recolha de materiais para uma história da BD (de Resendes);
>O mundo das sombras: aborda a espionagem durante a II Guerra Mundial (de José Ant.º Barreiros);
>Passado/Presente: a construção da memória no mundo contemporâneo: coord. por Rui Bebiano (d'A terceira noite) e Miguel Cardina, é já um valor seguro na abordagem do papel da memória na contemporaneidade;
>Roma antiga: com muitos textos de análise sobre a história, cultura, usos e costumes desta civilização, vem de 2004 e contém uma lista de blogues específicos nas áreas da história e direito;
>Ruy Luís Gomes: Jorge Rezende recolhe aqui elementos sobre este matemático antifascista (na área biográfica, há tb. 1 blogue dedicado a Egas Moniz).
Entre os sites específicos destaco, por ora, o Portal da História (pela sua articulação entre didactismo e reflexão histórico), os Debates Parlamentares (da AR e c/todos os debates desde 1821), o Respublica (pelo manancial informativo) e o CPHRC (sobre o Portugal contemporâneo e para um auditório anglófono).

segunda-feira, outubro 30, 2006

Avenida 5 de Outubro

A 5 de Outubro não calhou, mas não queria deixar passar a evocação da I República antes do ocaso deste mês. A I República é um dos períodos da História contemporânea mais fascinantes e está a necessitar de revisitações críticas que superem os julgamentos enviesados para uso na peleja ideológica actual.
Por isso, aproveito para convocar uma passagem evocativa na 1.ª novela de Manuel da Silva Ramos. Diz assim:
"O nascimento da república. O meu avô está lá. De pé ao cimo da avenida. Os olhos abertos para o futuro. Está de pé e treme no lado ocidental da barricada, construída por ele (por todos nós) com bancos arrancados da rua. Cai-lhe um chapéu para a testa ancestral. Cai-lhe um bigode para os lábios históricos. Ao fundo da espingarda começam os seus olhos. Graves, cor de maçã. Em Trieste, ao mesmo tempo, sem nada saber, James Joyce escreve «Dubliners», num pequeno café, cuja primeira edição há-de ser queimada por um desconhecido. [..]
E meu avô, do fundo desta página, canta Cantiga dum pé descalço com uma lágrima actual no rosto:
«Bati-me lá na Rotunda
Herói eles me chamaram
Pouco tempo decorrido
Nesta prisão m'encerraram.»
[..] E o meu avô vai sentar-se mais longe, mais perto do seu tempo, a tremer de fome, espingarda ao lado, olhar contra a tarde portuguesa.
Avô, minha aventura lírica. Meu movimento".
(in Os três seios de Novélia, 2.ª ed., Fenda, 1996, p. 26 e 29)
Nb: imagem do Arq.º Fot.º da CML.

sexta-feira, outubro 27, 2006

História oral, história de todos

Começou ontem e acaba amanhã o I Congresso Internacional de História Oral nativo. Decorre no auditório da magnífica Biblioteca Municipal Almeida Garrett (junto ao Palácio de Cristal, no Porto).
Ontem falou-se dos recursos digitais específicos da British Library (por R. Perks), das memórias dolorosas do período da Ditadura Militar argentina (F. Lorenz) e teorizou-se esta área de estudos (R. Neto).
Hoje já se abordou a historiografia específica (Alistair Thomson); prosseguir-se-á com reflexões a partir dos casos brasileiro (A. Montenegro) e espanhol (Prats) e do Museu Pessoa (Univ. Minho).
Amanhã é a vez de Paula Godinho (UNL) falar de como a História oral pode ser a única via para reconstituir um episódio trágico de repressão policial numa aldeia da raia transmontana, no final de 1946. E de Alessandro Portelli abordar o massacre nazi na Roma de 1944. Segue-se um workshop, a encerrar.
Resta felicitar os organizadores (Dep.º de História da FLUP) por esta excelente iniciativa.

quarta-feira, outubro 25, 2006

A Hungria e o estertor violento do comunismo no mundo

O esmagamento da revolução húngara de 1956 pelos tanques soviéticos, que faz por estes dias 50 anos, deu início ao lento ocaso do comunismo no mundo. Podia, hipoteticamente, ter sido só o enterro do estalinismo, mas não foi. A responsabilidade é da União Soviética, mas também da Guerra Fria, por razões 'estruturais' e conjunturais: os EUA alhearam-se da questão por fidelidade ao mapa de Ialta, a crise do Suez desviou a atenção internacional (sobretudo a das potências europeias), a URSS não sentia pressão para concessões e receava o perigo de contágio pela Europa oriental e o consequente xeque ao Pacto de Varsóvia.
Por cá, houve uma ilusão semelhante de apoio das potências ocidentais para o derrubamento do salazarismo no imediato pós-II Guerra Mundial. A Guerra Fria, porém, já começara de facto, e fazia do povo português uma das suas primeiras vítimas. Quem se iludiu pagou cara a ousadia, com perseguições, despedimentos, aposentações compulsivas, prisões, etc..
Na blogosfera abordam o tema Miguel Madeira (em extenso dossier), José Reis Santos e Fernando Morais Gomes, entre outros.
Nos diários do burgo vd. textos de Jorge Almeida Fernandes e de Fernando Sousa.
Nb: imagem do site Historia siglo XX (tb. com tx.); +imagens neste site oficial húngaro.

terça-feira, outubro 24, 2006

E você, bom lusíada, o que faz pela tradição?

"Portugueses ainda perfilham moral tradicionalista", titulava bombasticamente o Público deste sábado (p. 2). Seria motivo de preocupação se fosse verdade. Mas não é. E o pior é que se baseia no empolamento duma questão, a 1.ª, já de si mal formulada.
Devo dizer que, até à data, acompanhara as sondagens da UCP sem sobressaltos. Desta vez, porém, algo saiu do tom, a saber, a elaboração da questão inicial: "Em geral, qual acha que devia ser o objectivo mais importante para a nossa sociedade hoje em dia?"
Em 1.º lugar, não devia ser só A QUESTÃO MAIS importante, como se as nossas vidas estivessem dependentes dum único assunto, qual espada de Dâmocles.
Em 2.º lugar, as respostas possíveis estão mal formuladas, o que me surpreendeu. Dar como únicas hipóteses de resposta "Promover maior respeito pelos valores sociais e morais tradicionais", "Encorajar maior tolerância em relação a pessoas com diferentes tradições e estilos de vida" e "Ambos (resposta espontânea)" parece um pouco surreal, convenhamos.
Para não me alongar muito, dou alternativas para se perceber aonde quero chegar: além de tb. se dever ter proposto uma resposta do género "Promover maior respeito pelos valores sociais e morais modernos", deveria ter-se equacionado o desdobramento desta em valores sociais e valores morais, e ter retirado a 3.ª opção: é uma contradição absoluta que não serve para explicar nada a não ser para pôr em causa as próprias sondagens, pois as pessoas são por vezes contraditórias, respondem apressadamente, não têm a mesma capacidade de responder a questões abstractas do que a questões concretas, respondem àquilo que pensam sobre certos termos ou conceitos (pois estes, regra geral, não são definidos a priori), etc., etc .. Quem escolhe esta 3.ª opção (24%, valor nada negligenciável), quer dizer o quê? Alhos e bugalhos, uma coisa e o seu contrário, é isso?
É caso para perguntar, se esta pergunta tivesse sido melhor formulada, não seria provável que fosse outro o resultado? Isto independentemente de termos a ideia (e dados) que permite concluir que a sociedade lusa é conservadora. Agora, se nos prendermos ao que é expectável em geral (ou ao senso comum) e não procurarmos os matizes conjunturais, as singularidades, as divergências, os pontos de fuga, então estaremos simplesmente a chover sobre o molhado.
PS: tb. a 4.ª questão (p.3), embora com menor relevância, me parece mal formulada. Com efeito, juntar uma droga minoritária a outra maioritária ("Acha que o consumo de marijuana ou haxixe devia ser legal?") já por si só é discutível; mais problemático se torna se tomarmos em conta que a marijuana de imediato será associado por várias pessoas à outra droga mais cultivada na América Latina, a folha de coca, donde se extrai a cocaína, uma droga dura que nada tem a ver com o haxixe, que é uma droga leve. É caso para dizer: não habia nexexidade!

segunda-feira, outubro 23, 2006

Adágios deste tempo (IV)

"31- Não confundas o entardecer com o fim do mundo.
32- Grão a grão enche o romancista o coração.
33- Os médicos padecem todos de hipertensão do porta-moedas.
34- Os advogados são dinossauros electrocutados às moscas.
35- Os artistas continuam a morrer de velhice e de muito juízo.
36- As pessoas mais sensíveis são os cangalheiros.
37- Os computadores portáteis póstumos dos escritores que se suicidaram ou daqueles que morerram vergonhosamente sós, são sistematicamente roubados pelos primeiros polícias a chegarem ao local do crime e desaparecem naturalmente na natureza.
38- Caçar feriados com redes e furões, o maior desporto.
39- Não conheço nenhum careca que não esteja desesperado.
40- As mulheres são como as raposas, entram nuas nos capoeiros e saem grávidas.
41- Estamos todos a apertar parafusos inexistentes.
42- É o número que eu calço para entrar no Inferno, classificado património português."
Manuel da Silva Ramos (Ambulância, Pubs. D. Quixote, 2006, p. 196)

sábado, outubro 21, 2006

O PREC contra-ataca

Não resisto a este momento de divulgação de teor político-satírico:
"Acaba de sair o nº1 do PREC - Pensa Rosna Estica Corta, publicado na sequência do PREC – Põe Rapa Empurra Cai (número zero)
No Sábado 21 de Outubro às 18h o número será apresentado Lisboa, na Ouvê (Rua do Século, nº 78).
A sessão conta com leituras críticas feitas por leitores atentos mas não veneradores (entre os quais Acácio Barradas, Cristina Ponte e Pedro Caldeira Rodrigues) e com uma leitura encenada do «glossário de ideias fortes e fracas» Da Abrangência ao Zunzum que nasceu do ciclo Em Novembro é de Abril e Maio que me lembro, organizado pelo PREC – Põe Rapa Empurra Cai, em Novembro e Dezembro de 2005. (Ver capa e nota explicativa em
www.jornalprec.com)
O número do PREC que vai ser apresentado (32pp + um suplemento «Vive quem vive» de 8pp e uma capa de 4pp) tem como tema central «o trabalho e a preguiça».
Os textos são de Absinte Abramovici, Alberto Pimenta, António Preto, Armando Silva Carvalho, Cesar de Vicente Hernando, Diana Dionísio, Filomena Marona Beja, Francisco Martins Rodrigues, Gabriela Dias, Irene Flunser Pimentel, Jean-Pierre Garnier, João Bernardo, João Pacheco, João Rodrigues, Jorge Silva Melo, Lira Keil Amaral, Luiz Rosas, Mamadou Ba, Manuel Lisboa, Manuela Torres, Miguel Castro Caldas, Miguel Perez, Pedro Rodrigues, Pitum Keil Amaral, Regina Guimarães, Renato Roque, Rui Canário, Saguenail, Vitor Silva Tavares.
Inclui depoimentos orais e entrevistas com Artur da Fonseca, Gianfranco Azzali (Micio), Giuseppe Morandi, Jagjit Rai Mehta, Jerónimo Franco, Manuel Graça (Juba), Peter Kammerer.
As ilustrações são de Bárbara Assis Pacheco, João Alves, Sofia Lomba, Tiago Cutileiro.
Contém textos antológicos de Alexandre O’Neill, André Breton, Bertolt Brecht, João César Monteiro, Gabriel o Pensador, George Orwell, Georges Bataille, Irmãos Pleskianov, Juvenal Antunes, Raoul Vaneigem, etc.
Tem ainda uma página de «passatempos» e uma página de «notícias da nossa terra» e um folhetim
À apresentação em Lisboa seguir-se-ão outras:
- No Porto, na sexta-feira 27 de Outubro, às 22h, nos Maus Hábitos (R. Passos Manuel, 178, 4º - frente ao Coliseu)
- Em Coimbra, na quarta-feira 6 de Dezembro, às 18h, no foyer do Teatro Académico Gil Vicente
- Em Viseu, na quinta-feira 14 de Dezembro, às 21h 30 no Lugar Presente- Companhia Paulo Ribeiro (R. Cândido dos Reis, 1).
PREC Pensa Rosna Estica Corta"
Que se pode esperar mais para um fim-de-semana preenchido?
PS: só aditar que há nova dose, e das fortes, lá mais adiante: em Novembro e Dezembro, virá o ciclo «O trabalho dá preguiça. A preguiça dá trabalho» (em Lisboa, Porto e Tondela). Venha de lá essa preguiceira toda, em Outubro, Abril, Maio ou Agosto, em qualquer altura, em qualquer lugar.

sexta-feira, outubro 20, 2006

A arte e a guerra

Este fim-de-semana, pelas 18h, a Casa d' Os Dias da Água acolherá 2 debates organizados pelo Teatro do Tejo e moderados pela jornalista Fernanda Câncio, respectivamente sobre "A arte e a guerra" e "Arte, razão e direitos". É o culminar do projecto «Teatros de guerra», que incluiu ainda a peça «O monumento» (Colleen Wagner), entre outros eventos. Toda a informação no blogue incomunidade.
Deste respigo a seguinte informação:
"O Teatro do Tejo é membro de «Theaters Against War» (THAW), uma rede internacional de artistas de teatro, empenhados na criação de uma cultura pró-paz e que acreditam na contribuição do Teatro e da Arte como veículo para a consciencialização contra a guerra e contra os ataques às liberdades e direitos civis."
O horário da peça vem aqui (a última sessão é a 22/X).

Ver o mundo doutros modos

Está de volta o doclisboa e melhor do que nunca, a avaliar pelo veio lusófono. Neste capítulo, e até 29/X, destaco os seguintes 10 documentários (guiado pelos resumos):
>Oxalá cresçam pitangas (de Kiluange Liberdade e Ondjaki): retratos da Luanda de hoje;
>Elogio ao 1/2 (de Pedro Sena Nunes): pescadores construtores de casas, na 1/2 Praia;
>Cartas a uma ditadura (de Inês Medeiros): o salazarismo pela voz de mulheres comuns;
>Pátria incerta (de Inês Gonçalves e Vasco Pimentel): cicatrizes católicas e luso-goesas;
>Brava dança (de José Pinheiro e Jorge Pires): os Heróis do Mar, o Portugal antigo e o moderno;
>Onze burros caem no estômago vazio (de Tiago Pereira): história da relação do mirandês com os seus burros, passando pelo canto;
>Cantai cantigas (de Cláudia Tomás): de novo as cantigas transmontanas, dos 7 aos 77;
>Onde jaz o teu sorriso? (de Pedro Costa): a criação, com Danièle Huillet e Jean-Marie Straub;
>Entre nós (de André Godinho, Pedro Paiva, Fausto Cardoso, Tiago Afonso, Sérgio Tréfaut, Catarina Alves Costa, José Filipe Costa, Cátia Salgueiro, André Príncipe, Miguel Nogueira, Joana Neves e Leonor Noivo): ser lusíada lá fora, ser forasteiro em Portugal, eis o repto do Fórum Gulbenkian sobre Imigração a 12 cineastas lusos;
>Bien Mélanger (de Nicolas Fonseca): a identidade dos lusodescendentes do Canadá, incluindo um depoimento de Anthony Giddens.
Além da descoberta (ou afirmação) dum género que o Festival possibilitou, realce-se a qualidade da programação, não só em termos temáticos como de origem geográfica, bem como a aposta em certos documentaristas e na produção lusófona.
Vai só na sua 4.ª ed., mas já deu uma lição aos programadores de cinema do burgo e encheu de ridículo a tv nativa, onde o pouco (mas excelente) documentário existente surge envergonhadito, como se fosse produto minipreço, sem pedigree, coitadito... Num país com montes de pedigree, claro, claro, oh yeah, of course, oui, oui, si, si, verdad...
Pelos vistos, vale a pena apostar na qualidade e na pluralidade, e esta hein?

quinta-feira, outubro 19, 2006

Pela liberdade de escolha, em consciência

Hoje será debatida no parlamento a proposta de referendo do PS para a descriminalização do aborto.
Entretanto, a Igreja católica resolveu intrometer-se de novo numa questão que os próprios partidos de Direita advogam ser da consciência individual e, pior do que isso, colocando sob alçada directa dos bispos as associações voluntárias anti-liberdade de escolha. É caso para dizer que de voluntárias estas associações têm muito pouco, ou nada.
Aproveita-se para apresentar aos nossos leitores uma lista de alguns blogues não só pró-escolha como pela descriminalização da Interrupção voluntária da gravidez (IVG), para que não se diga que só se mexem os conservadores intolerantes:
Blue! (J. Manuel contra a "consagração legal de uma moral absolutamente relativa de uma parte");
Defender o quadrado (Sofia Loureiro dos Santos questiona as legitimidades políticas em jogo);
Devaneios desintéricos (Max Spencer-Dohner acede ao repto de Boss e alude a post anterior onde anota as 10511 mulheres que em 2005 deram entrada nos hospitais por complicações em abortos clandestinos);
Diário ateísta (Ricardo Alves anota as contradições da Igreja católica, ou Ortiga vs. Policarpo);
Fuga para a vitória (CC detém-se naquilo que costuma faltar nos debates nativos, i.e., dados, empiria, referindo-se ao caso britânico e seus regulares relatórios médicos);
Glória fácil (Fernanda Câncio expõe as acrobacias de Portas, Marcelo & cia. para ocultar os julgamentos, a punição das mulheres que abortam sem respaldo legal);
IVG: a mulher decide, a sociedade respeita, o Estado garante (blogue do Movimento pela Despenalização da IVG);
O pequeno blogue do grande terramoto (Rui Tavares mostra como a Direita já começou a usar golpes baixos numa discussão que devia ser séria e argumentada);
Os tempos que correm (Miguel Vale de Almeida deseja que o caso luso seja uma excepção face à ofensiva de correntes conservadoras para estender o conceito de pessoa);
Renas e veados (Boss apela à participação e insere muitos links para sites específicos);
Uma certa enciclopédia chinesa... (João Manuel de Oliveira valoriza uma medida que só honra este PS, refazedo-se de dívida anterior);
A vila (AC recorda o dever que o PS e a Esquerda parlamentar têm para com o pluralismo na sociedade qt. a esta precisa questão);
Womenage a trois (Shyznogud argumenta e expõe as contradições de certos liberais-conservadores).
Todos os blogues pró-escolha que encontrei são tb. pela descriminalização do aborto, o que é lógico. Mais, em princípio são tb. todos pela despenalização da IVG.

terça-feira, outubro 17, 2006

Microcrédito, grandes oportunidades

O Prémio Nobel da Paz deste ano foi atribuído ex aequo a Muhammad Yunus e ao Banco Grameen, de que é fundador. O de Economia fora já para Phelps, alguém que dedicou grande parte da sua pesquisa a estudar o desemprego. Prova de que a Academia Sueca está atenta ao trabalho que aproveita a muitos, a muitos e desfavorecidos.
O microcrédito é uma área ainda descurada no seio das políticas laborais, sociais e económicas internacionais (sobre Portugal vd. aqui), embora seja um dos instrumentos mais válidos para uma política transversal e esteja bem 'cotado' entre os cientistas sociais. Aqui alude-se a um estudo que avaliou positivamente um projecto de microcrédito no Vietnam, apoiado pelo Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas. É a prova de que com pequenos empréstimos se podem abrir oportunidades antes insuspeitas a muitas pessoas, pessoas que não teriam outra hipótese de obter crédito. E assim, reduzir a pobreza e conferir mais coesão à sociedade.
Sobre o papel do bengalês Yunus, vale a pena ver o blogue do Observatório da Rede Europeia Anti-Pobreza/ Portugal (sobretudo aqui, aqui, aqui , aqui e aqui). Vd. tb. este post de Miguel Madeira.
E devia ter falado tb. do Nobel da Literatura, o turco Orhan Pamuk, eu que sou acérrimo defensor da entrada da Turquia na UE, mas o tempo voa.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Os cromos da Tugolândia

Então vá, eu voto no inéfável Pacheco Pereira.
Para suplente, o impagável cronista VPV.
Fico a torcer para que ganhem, eles merecem, até se têm esforçado e tudo.

E não há por aí um Joe Express Gold?

Adágios deste tempo (III)

"21 - Homem pequenino, não tem necessariamente de ter um de asinino.
22 - Os futebolistas dão sempre nas vistas.
23 - Quem muito fala só pode ser um génio.
24 - Quem se mete a viver com um preservativo, mete-se fora da sociedade.
25 - Ri-se só quem está a ser enrabado ao sábado.
26 - Os moribundos comem kiwis.
27 - Os jornalistas, em vias de extinção, copiam-se todos uns aos outros.
28 - No Verão divide o teu cão pelos vizinhos.
29 - «Finalmente vai a Fátima!» dizem os caóticos.
30 - Quem come pão ainda acredita na revolução."
Manuel da Silva Ramos
(Ambulância, Pubs. D. Quixote, 2006, p. 195/6)

domingo, outubro 15, 2006

A moral do chico-espertismo

Nb: autor anónimo.

sábado, outubro 14, 2006

Mais livrarias desempoeiradas!

Nos últimos tempos, surgiu uma revoada de novas livrarias, com a vantagem de serem 'modernas', isto é, de promoveram actividades culturais complementares, de não se limitarem a vender o seu peixe. Outrora tb. houve casos dignos de nota, com tertúlias e tudo (e.g., a Sá da Costa, no Chiado), mas dependentes de sociabilidades ocasionais dentro de círculos restritos e não assentes numa programação pública. Seguem estas novas livrarias o legado de certas associações sócioculturais e das bibliotecas públicas modernas do pós-guerra (por cá, neste último caso, foi sobretudo no pós-revolução de 1974).
Já em post anterior referira 8 destas livrarias, aqui fica mais um conjunto apelativo:
>Arquivo Livraria Papelaria (em Leiria desde 1979, c/ciberespaço, cafetaria, galeria, aud.º, lançamentos, serões de poesia e histórias, exposições, filmes, conversas com autores e até tertúlias!, e aberta até às 23h, que mais se pode querer?);
>Livraria Letra Livre (com “os livros impossíveis” desde 2005, e num sítio apetecível: Cç. do Combro, 139, à Bica, Lx.);
>Livraria Livrododia (de Luís Filipe Cristóvão e em Torres Vedras, fez 1 ano em Julho, c/lançamentos, livros de autor, oficinas de escrita, animação pela leitura, selecções sobre região Oeste, lusofonia e jovens autores, e um blogue!);
>Livraria Pára e Lê (em Vila Praia de Âncora, “pequeno espaço de tertúlia” ap. bbde);
>Maria vai com as outras (centro cultural portuense que festejou 6 meses de vida a 12/X na R. do Almada, 443; c/uma apelativa auto-definição: “loja de livros, tabacos, chás, artesanato, mobiliário, vinhos, outras cores, outros cheiros, outros sabores”);
>Nouvelle Librairie Française (há muitos anos na lisboeta Av. Luís Bívar, 91, c/cafetaria, mediateca, exps., etc.);
>Poetria (f.31/V/2003, liv.ª de poesia e teatro, na portuense R. das Oliveiras, 70);
>Pulga (liv.ª das edições mortas e outras editoras alternativas, do poeta e editor Ant.º da Silva Oliveira, na portuense R. Júlio Dinis, 752; horário: 2.ª-sáb.º, 15-19h);
>Unicepe (é a Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, na Pr. Carlos Alberto 129-A,1.º, tem montes de actividades e uma editora);
>Utopia (liv.ª alternativa de Herculano Braga, aberta ao mundo, como bem refere o blogue Dias Felizes; na R.da Regeneração, 22, Porto).
Mais informação sobre estas e outras livrarias do país e do mundo em Bad Books Don’t Exist: é todo um mundo novo ao virar dum clique! Com livrarias como estas é caso para dizer, com Jorge Luís Borges: “Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria”.
Outros acrescentos serão bem-vindos. Alguém se lembra de mais alguma livraria prá-frentex?

sexta-feira, outubro 13, 2006

A literatura que nos desarranja

O II Congresso Português de Literaturas Marginais tem hoje o seu 2.º e último dia na FLUP. O cardápio é tentador (vd. aqui), quem me dera já estar no Porto (só aí estarei lá mais adiante, noutro Congresso, o de História Oral).
Há alguns anos que acompanho com gosto o trabalho dum dos seus mentores. Falo de Arnaldo Saraiva, de quem gradualmente fui apreciando a prosa simples e cuidada das suas crónicas no Jornal do Fundão. Dele li tb. o livro O nome e a coisa, uma pequena pérola sobre esse acto complicado e ao mesmo tempo venturoso que é o de dar nome a uma futura pessoa. É uma escrita diversa do habitual, luminosa, que convoca o maravilhoso. Dessa corrente outrora florescente nos estudos literários li tb. O guardador de retretes, de Pedro Barbosa, mt. interessante e iconoclasta, que agora constato ter já várias referências internáuticas: JPG, Animal, e, sobretudo, Frenesi.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Homi Bhabha, o debate aberto e a ética global

Um dos pensadores mais influentes da actualidade, Homi Bhabha, conferencia hoje na FCG (aud.º 2, 18h30). É uma boa oportunidade para ouvir um indiano parsi, formado em Oxford e investigador de Harvard falar da globalização como transição, dos seus erros e virtualidades. Aproveita-se para respigar ideias relevantes por si expostas em recente entrevista a Alexandra Lucas Coelho (Pública, 8/X).
Sobre o despropósito do termo «choque de civilizações»:
"Argumentei contra o uso do conceito «choque de civilizações». Antes de mais, porque não acredito que as culturas tenham antagonismos regionais ou essenciais. Podem existir sistemas de crença distintos, noções muito diversas de hábitos e práticas, mas não acredito que as culturas continuamente se querem opor ou erradicar. [..] Os antagonismos [..] devem-se a decisões políticas, a matérias geográficas e políticas, à história."
Sobre a intromissão do religioso na política:
"Numa situação em que temos migrações em grande escala, refugiados, movimentos populacionais, uns «media» que quando estamos em Boston nos levam para Bagdad e Bombaim diariamente, quanto temos tanto desenraizamento, perigo e transição, é muito importante, em conjunto com um sentido de racionalidade, ter um sentido de emoção, de ética, que fale à nossa imaginação, que dê um sentido de pertença. A linguagem do regresso a Deus também tem que ser vista no contexto dessa falta."
Sobre as ameaças do securitismo à democracia:
"em muitos países da Europa e nos Estados Unidos há uma quantidade de leis ou novos procedimentos parlamentares que têm impacto nos nossos direitos civis. Sabemos que no mundo de hoje, em que por razões de segurança é considerado importante deter ou prender gente, os direitos humanos estão a ser desafiados. [..] Tudo isto definitivamente lança uma sombra sobre a democracia."
Das alternativas ao securitismo:
"Como podemos ser mais transparentes num[a] situação de ansiedade e terrorismo? Bem, juglo que a democracia requer que as pessoas participem nas decisões tomadas pelos líderes. Julgo que temos tido muito menos transparência do que poderíamos, e por isso violámos um dos primeiros princípios da democracia, o debate aberto. Defendo que um tempo em que há situações de emergência tem que ser um tempo em que haja possibilidade de debate. A democracia [..] é a possibilidade de debater o que é legítimo ou ilegítimo."
Sobre a dúvida e a ética globais:
"A «dúvida global» permite ver e questionar os desenvolvimentos da globalização. Não significa ser negativo em relação à globalização, mas permite-nos ter uma visão equilibrada, perguntar, por exemplo, como é que num país como a Índia temos Bombaim ou Bangalor, muito avançados tecnologicamente, e isso não muda o facto de a literacia ser muito pobre, de as infraestruturas serem muito pobres. Permite ver onde estamos e onde deveríamos estar. Dá-nos uma visão ética, das responsabilidades, da justeza, e é a base de uma ética global."
Para mais dados e excertos de excelentes textos de Hommi Bhabha vd. aqui e aqui.

quarta-feira, outubro 11, 2006

A cultura do foguetório

Faz este mês 4 anos que o 3.º mais importante arquivo histórico do país se encontra encerrado ao público. Falo do Arq.º Histórico da CML, fechado em bolhas numa desterrada garagem do Alto da Eira, só estando acessível o núcleo do Arco do Cego e os processos de obra.
Não há dinheiro, dirão os apressados. Certo? Errado. Ainda anteontem o Público noticiava o gasto de 1 milhão de euros na árvore de Natal do Terreiro do Paço (cf. p.51). É tb. assim lá fora, dirão novamente os apressados. Certo? Errado. Primeiro, esta vai ser a "maior da Europa" (já em 2005 assim o foi, agora tem +3 metros e atingirá 75 metros, fantástico Mike!), depois há muitas cidades com finanças e gestão mais equilibradas.
Entretanto, ainda recentemente saímos do foguetório da Luzboa, do qual se está para saber qt. custou e para que serviu (cf. aqui). Além do fogo-fátuo, agora a CML só tem olhinhos para o cinema, começando pela Festa do Cinema Francês, já justa e suficientemente apoiada pelo Institut Franco-Portugais, Cinemateca Portugesa, embaixada, etc.. Como se não houvesse mais nada ou, sobretudo, nada mais prioritário, a começar pelo arquivo histórico. Mas para quê, se não dá nas vistas?
Só o dinheiro gasto em foguetórios dava para recuperar um dos vários palacetes municipais e nele colocar a documentação ora inacessível, em vez de desesperarmos por um mais oneroso "Arquivo e Biblioteca Central", num deslocado Vale de St.º António a encher de betão, há anos prometido e que chegará sabe Deus quando.
Para lá de défices e crises, há sempre opções políticas que são feitas, e estas têm sempre consequências palpáveis. É preciso é falar delas abertamente, para cada qual poder julgar por si próprio, em consciência.
Nb: na imagem, fogo-de-artifício na Londres de 1749, um fiasco literalmente estrondoso, pois redundou numa grande explosão: mais desenvolvimentos no blogue O Céu sobre Lisboa.

terça-feira, outubro 10, 2006

Adágios deste tempo (II)

"11- Quem mete na comida muito sal, não chega ao Pragal.
12- Em Maio poupa um desmaio.
13- As aparências desiludem.
14- Quem vê televisão é porque não pode comprar um saguão.
15- Os sábios escondem-se ou caíram em desuso.
16- Toda a gente conhece a valsa do cinto das calças.
17- Os portugueses têm casas a mais e botões a menos.
18- Há cada vez mais pessimistas desenforcados.
19- Quem escuta, passa a ser parvo.
20- Quem dá aos pobres, ainda escreve cartas."
Manuel da Silva Ramos,
Ambulância, Pubs. D. Quixote, 2006, p. 195

segunda-feira, outubro 09, 2006

As cidades não sabem nadar, iô

Agora num registo mais sério, há mais para dizer, há.
Acabei de ver o filme Uma verdade inconveniente e, de facto, dá muito que pensar. A mensagem é clara e preocupante: se não forem tomadas as medidas ambientais certas em termos globais, estaremos a hipotecar o futuro de todos. Não é só o espectro duma catástrofe ecológica mundial iminente (com a inundação de vastas áreas das principais cidades actuais e o decorrente surgimento de c.100 milhões de refugiados); é todo o rol de alterações de que vamos testemunhando os nefastos efeitos: mais furacões, tornados e tempestades devastadores (e em sítios onde nunca haviam ocorrido), com todo o cortejo de desgraças associado, subida do nível da água do mar e da temperatura, reforço da seca em vastas regiões (e aqui surge a crise na África subsariana, com o actual desaparecimento total do Lago Chade), propagação mais rápida de certas doenças, alergias, epidemias e pragas, aceleração da extinção de espécies, etc.). Outra coisa que o filme desmonta bem é como um consenso científico sólido (suportado na unanimidade duma amostra de 10% dos artigos científicos com avaliação por pares, num universo de q. 10 mil trabalhos) é deturpado nos media devido a manipulações político-partidárias (aqui quase 1/2 dos textos analisados num estudo diziam que não havia consenso, que ainda havia dúvidas, etc.), instalando a incerteza e apatia na opinião pública.
Al Gore tem razão: este é um problema civilizacional e da globalização. Depende do poder político mas tb. de cada um de nós, ou seja, do modo como reagirmos à actual situação, que exige esforços de todos, o que não tem forçosamente que ser andar de burro, como sugere uma leitura apressada ou mal-intencionada. Basta votar em políticos e dirigentes associativos que apoiem medidas no sentido das energias renováveis, do Protocolo de Quioto, do reforço da reciclagem (aqui cada um de nós pode contribuir), de veículos com energias menos poluentes, do comércio justo, no consumo responsável, etc., etc..
An inconvenient truth revela tb. como o ambiente é uma questão política que evidencia de modo flagrante a demarcação entre esquerda e direita, ou entre progresso responsável e conservadorismo ganancioso: vd. as rábulas de líderes conservadores denegrindo as iniciativas de Al Gore. Ainda assim, Al Gore prefere colocar a questão num patamar ainda mais premente: o da questão ética, interpelando-nos sobre o que queremos legar, e mostrando que se não fizermos uma opção global mais racional e solidária comprometeremos irremediavelmente o futuro das próximas gerações. Enfim, há sempre quem prefira dar 2 passos em frente e já sonhe com colónias humanas na Lua e em Marte...
Mais informação está disponível no site deste movimento de consciencialização, o Climate Crisis.

domingo, outubro 08, 2006

Aquecimento do planeta: a prova histórica que faltava!

É preciso dizer mais alguma coisa? Não? De certeza? Vejam lá.

sábado, outubro 07, 2006

Rita e Lena, à boleia duma entrevista de Alberto Pimenta

Este vídeo é irresistível. Rita Lee é uma das grandes sobreviventes dum certo rock 'tropical'. Tem músicas ainda hoje facilmente reconhecíveis e boas de ouvir, como «Baila comigo», «Coração babão» e «Esse tal de roque enrow». Por cá tivémos algumas tentativas de lhe dar sequência, como os Salada de Fruta, com a saudosa Lena D'Água, mas acabou cedo, infelizmente. Tudo isto foi suscitado por um dos últimos «Câmara Clara» (:2), sobre erotismo e com o prodigioso Alberto Pimenta, o qual pode ser visto na íntegra aqui (é o de 22/IX). Deixo-vos tb. com o delicioso poema de Rita Lee, inspirado numa crónica tb. ela gostosa de Arnaldo Jabor.
«Amor e sexo» (Rita Lee / Roberto de Carvalho / Arnaldo Jabor)
Amor é um livro - Sexo é esporte
Sexo é escolha - Amor é sorte
Amor é pensamento, teorema
Amor é novela - Sexo é cinema
Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa - Sexo é poesia
O amor nos torna patéticos
Sexo é uma selva de epiléticos

Amor é cristão - Sexo é pagão
Amor é latifúndio - Sexo é invasão
Amor é divino - Sexo é animal
Amor é bossa nova - Sexo é carnaval

Amor é para sempre - Sexo também
Sexo é do bom - Amor é do bem
Amor sem sexo é amizade
Sexo sem amor é vontade
Amor é um - Sexo é dois
Sexo antes - Amor depois
Sexo vem dos outros e vai embora
Amor vem de nós e demora

sexta-feira, outubro 06, 2006

Da megalomania autárquica

Tinha que ser em grande, com trombetas e cantos de cisne. Vem em parangonas (em ingalixe, soundbytes): a Nova Expo, uma Baixa idílica, um novo Terreiro do Paço, tão cara como a Ponte Vasco da Gama, e, para não destoar, o bebé posto no colo do Governo, claro, assim sempre se pode passar culpas se nada for feito. Do que já não fizeram alardo é que custa +de 220 milhões de contos (1104,8 milhões de Euros: cf. p. 148 da "proposta"), vai trazer mais obras por um ror de tempo (é o costume), +1200 lugares de estacionamento (ou seja, convidando mais carros para dentro da cidade), mais 1 circular para trazer mais trânsito, + de 2000 camas em novos hotéis (sendo 1 no Terreiro do Paço), 1 elevador para o Castelo (aquele mesmo que incensaram há uns anos atrás), 2 novas empresas para boys (para além do novel Comissariado da Baixa) e, sim, habitação... para ricos. Qual é, então, a oportunidade duma megalomania destas perante uma autarquia enterrada em dívidas até ao pescoço e face a um país a ver se contém o desperdício público e equilibra défices crónicos?
O faraónico Plano está aqui. A informação jornalística de síntese foi bem trabalhada pelo DN (João Pedro Henriques, Marina Almeida e Susana Leitão) e Público/Local-Lisboa (Ana Henriques: 3-4/X; infelizmente a ed. digital continua só acessível a assinantes). Uma 1.ª leitura crítica, com propostas alternativas sensatas e exequíveis, foi já avançada pelo Fórum Cidadania Lisboa.
Realço o óbvio: mais pertinente do que procurar ficar na História como autarca megalómano é avançar com objectivos pertinentes (pôr fim aos prédios devolutos, estimular o arrendamento, recuperar quintas, palácios e espaços afins para pólos sócio-culturais, etc.) e atender a contextos efectivamente carenciados, como a recuperação de bairros problemáticos (vd. anúncio de proposta governamental aqui).
Nb: foto panorâmica de Judah Benoliel, 1940/49 (do Arq.º Hist.º Fot.º da CML).

quarta-feira, outubro 04, 2006

Literacia e liberdade

Acabou de sair o n.º 6 da revista O Direito de Aprender, uma publicação que pugna pela educação ao longo da vida e para todos.
O presente n.º contém as intervenções ao Encontro de Educação e Formação de Adultos, que decorreu no final de 2005 e contou com a presença de mais de 400 pessoas. Nele foi proposta uma Rede Nacional da Educação e Formação de Adultos em Portugal.
A revista aborda outros assuntos relevantes para o desenvolvimento local e sustentável: a agricultura biológica em Sever do Vouga; a Animação comunitária – educação de adultos num bairro de predominância cigana (Olival); relato do curso de Acompanhantes de Crianças em Évora; a Universidade do Tempo Livre de Coimbra; a situação dos centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências.
O seu 1.º n.º surgiu em Maio de 2004, e desde então já cruzou a educação/ formação com temas como os museus, a saúde, as bibliotecas (neste n.º 4, com um dossier muito rico, destaco a reportagem sobre "A biblioteca que deambula", iniciativa inovadora da animadora cultural lusofrancesa Margarida Guia). Vale a pena atentar tb. nalguns dos textos aí disponíveis do seu mentor e um dos maiores peritos em educação e associativismo local, Alberto Melo (Univ. de Faro): vd., por exemplo, este (sobre associações locais) e este (sobre política de educação de adultos).
Da revista respiga-se ainda, para reflexão, o diágnóstico crítico da educação e formação em Portugal, retirado da entrevista a um dos mais reputados especialistas da área, Licínio Lima (Univ. do Minho):
"O maior problema de Portugal é a ausência de retaguarda educativa e não o de falta de qualificações profissionais. Não vale a pena recorrer a truques, como o «choque tecnológico»; o problema é de décadas. Para resolvê-lo, é preciso investir profundamente na educação de adultos em várias áreas, na educação popular, na alfabetização literal. O investimento e as políticas públicas são essenciais, a educação de adultos não pode estar entregue ao mercado".
Tal periódico não podia ser mais oportuno, a própria ONU lançou em 2003 a Década da Literacia, uma campanha mundial de fomento de iniciativas locais neste âmbito, sob o lema «Literacia como expressão da liberdade». A este propósito, sugiro o visionamento em vídeo dos cartazes da campanha (nb: quem neste link só conseguir ouvir música terá que ir aqui, escolher portfolio e aí clicar no ícone de Ghandi, a 2.ª imagem do topo esq.).

terça-feira, outubro 03, 2006

O despachante oficial

"que ideia, que tipo de humor negro, meu caro Correia de Campos, o de chamar taxas moderadoras a intervenções cirúrgicas ou internamentos. Será que alguém gosta que o operem - a não ser em casos de masoquismo clínico particularmente raros? Ou será que as pessoas vão pretender passar férias internadas em Santa Maria, a comer aquela horrenda comida que nem os gatos famintos comem? Devemos, é claro excluir os casos em que as famílias abandonam os doentes nos hospitais porque não os querem em casa - e isto são terríveis casos sociais que, como tal, devem ser tratados.
[..] Na cauda está Correia de Campos, que ainda não mostrou uma política para a saúde e vive de decisões avulsas semeadas pelo país fora."
Eduardo Prado Coelho,
"Os números são o que são", Público, 2/X, p. 9.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Adágios deste tempo

"1 - Quem pouco dorme muito rouba.
2 - Os ricos pagam impostos nas putas caras.
3 - Os padres são os saloios do presente.
4 - Deus ainda ilude muita gente.
5 - Quem come sentado tem forçosamente as calças rotas.
6 - Os pobres estão cada vez mais sossegados.
7 - Os caloteiros trabalham todos os dias.
8 - Há cada vez mais agiotas e poetas.
9 - Os mortos começam a ter dificuldades.
10 - Os vivos só olham para as dívidas que têm."
(Manuel da Silva Ramos,
Ambulância, Pubs. D. Quixote, 2006, p. 195)
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