terça-feira, junho 20, 2006

Os narcisos na Feira Popular plastificada

Após ter escrito sobre o novo despontar de narcisos, eis que leio no DN as explicações do director ao provedor sobre esta precisa polémica, as quais, embora atenuem a dimensão do problema, não o afastam de todo, tal como deixa implícito o próprio provedor.
Da coluna de José Carlos Abrantes saem 3 ilações que causam perplexidade e mostram o estádio evolutivo do espaço público luso: 1.º) o director do DN acha que lhe cabe dar indicações directas sobre os livros a recensear na secção cultural do mesmo, quando tal deveria ser responsabilidade do editor específico ("A direcção editorial da revista é pois da responsabilidade da direcção do DN, que assume por inteiro"); 2.º); o director acha que todos os livros de todos os jornalistas do DN têm de ser recenseados no seu jornal, qual prerrogativa régia imune ao valor real da obra ("Quando um jornalista escreve um livro, potencialmente objecto de notícia, coloca-se sempre a questão delicada sobre o que fazer com ele no seu próprio jornal. Há duas hipóteses: ou se ignora, o que não será justo, ou se aborda com um reforçado escrúpulo."); 3.º) a não aplicação no DN dos mecanismos de salvaguarda de conflitos de interesses referidos pelo provedor (baseados em experiências alheias), apesar do seu elementar bom senso (não ficará assim diminuída a autoridade dos media para vigiarem incompatibilidades dos políticos ou doutras profissões?).
Há quem ache tudo isto normal, há quem cinicamente assevere ser assim em todo o lado (se o fosse então não haveria nem bom nem mau, nem melhor nem pior), há quem recuse oportunidades para afinar mecanismos de salvaguarda, mostrando que, por cá, os conservadorismos e elitismos estão mais enraizados do que pareceria à 1.ª vista.
Se o sup.º «6.ª» fosse muito bom, isto até seria menos questionado. O problema é que não tem qualidade suficiente, é um mostruário descartável da indústria cultural mainstream, inundado de pop-rock para adolescentes e de toda a banhada de Hollywood, sobrando um espacinho envergonhado para o teatro e os livros (e, mesmo estes, quantas vezes submersos por literatura pimba ou 'amiguista'). Há uns meses que me interrogo sobre esta experiência falhada: mas quem é que eles julgam que são os leitores de suplementos culturais? Os adolescentes do copianço, das praxes e dos festivais da desbunda? É isso?
Fizeram estudos, inquéritos? Preocupam-se, ao menos, com o reforço do espaço dos leitores e da qualidade dos conteúdos? E uma maior diversidade de tendências, secções, géneros, colaborações, periodicidades, diz-lhes alguma coisa?
PS: dito isto, o DN continuará a ser o meu diário nacional, vou deixar é de o comprar num certo dia da semana, bem como noutro dia que tem um outro suplemento, este abominável e que me dispenso de referir, toda a gente sabe qual é.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

eu não sei qual é o outro...

12:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

será a revista dos perfumes??

1:21 da tarde  
Blogger Daniel Melo said...

O sup.º abominável de que falo é a magazine de sábado «NS», mas a 'revista' de domingo «Notícias» tb. está aquém do exigível. Parecem catálogos da La Redoute, só que com menos folhas e menos caras lindas.

12:47 da manhã  
Blogger Daniel Melo said...

Realmente, pensando bem, o «NS» parece uma revistinha de perfumes e outros acessórios de beleza.
O consumismo bacoco e omnipresente.
Que miséria.

12:49 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home

Site Counter
Bpath Counter

fugaparaavitoria[arroba]gmail[ponto]com