terça-feira, outubro 25, 2005

Para abortar o referendo

Sócrates prepara-se para resolver o problema do aborto na assembleia. É uma estratégia que visa, evidentemente, encurtar caminho. Faz mal. Se o fizer, ele é o primeiro a perder com isso a médio prazo. Desde logo, perde o próprio instituto do referendo que passará a valer zero neste país. Mas o problema essencial é que a palavra do primeiro-ministro valerá tão pouco que se aproximará da bancarrota. Depois do aumento dos impostos (que ainda se podia justificar pela mascarada do orçamento herdado) e depois do dito por não dito nas Scuts, deixar cair o referendo é dizer aos portugueses que se pode fazer tudo nas suas costas. É claro que tudo isto se podia ter resolvido na Assembleia sem referendo nenhum (aliás, muito discutível neste caso), e que a possível chegada de Cavaco à presidência deixa toda a gente à esquerda preocupada com o destino da despenalização, mas não podemos por isso cavalgar a vontade do povo já manifesta (ainda que num contexto não vinculativo) nem apagar os episódios anteriores desta triste história. O mais irónico é que ainda vamos ver o Bloco, um dos partidos mais mobilizados pela questão do aborto, a ser o único, à esquerda, a exigir a consulta popular.
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