Nisso?
Li há pouco o texto (Pensem nisto) em que o historiador Rui Ramos vem dizer o que espera de Cavaco na presidência da república. Conclusão: ou os governos deste país seguem a cartilha cavaquista ou devem ser destituídos. Para sustentar esta ideia de controlo musculado da acção governativa, o texto envereda ainda por quatro ou cinco linhas fortes, mas confesso que, de Rui Ramos, esperava bem melhor.
Desde logo a questão de os governos hipotecarem o futuro, ou a tentativa de “salvar o ‘statu quo’ à custa do futuro”. Como todos sabemos, entre 1985 e 1995, no consulado de Cavaco, o controlo do défice era implacável. Não, não é ironia, falo a sério, só que ao contrário: mal o “monstro” descia da casa dos dois algarismos percentuais, accionava-se imediatamente o plano nacional de emergência e, à falta de ideia melhor, enterravam-se algures uns milhões de contos em betão. Estranha forma de não hipotecar o futuro.
Do sebastianismo. Havendo cinco candidatos, não parece estranho a Rui Ramos que se fale de sebastianismo apenas em relação a um deles, curiosamente aquele que na verdade andou dez anos desaparecido e agora pretende ser Presidente da República? Vejamos, também acho que por cá se refere o sebastianismo por dá cá aquela palha, mas a candidatura de Cavaco não é certamente o exemplo mais estapafúrdio para o invocar.
Seguidamente o argumento de que tanto Alegre como Soares agora imitam Cavaco. Um, “de repente, também quer ser independente dos partidos”, e o outro “finalmente compreende, depois de muitos anos, que sem criação de riqueza o Estado Social não sobreviverá”. Não se desse o facto de a candidatura do primeiro ser de facto independente do PS, enquanto a de Cavaco Silva não o é efectivamente do PSD, e de o estado do Estado Social português ter muito a ver com os dez anos de governo do professor, e talvez a ideia funcionasse. Assim é gincana argumentativa.
Pelo meio fica também um estranho entendimento do tempo, que põe no mesmo plano “os choques do dr. Barroso e do eng. Sócrates”, isto é, equipara dois anos e meio de governo Barroso (quase quatro anos de PSD/PP, no total) a pouco mais de seis meses de governação Sócrates. Deve ser porque dá jeito.
Diz ainda que em política, hoje, “quem quiser ser levado a sério tem de ser um pouco ‘cavaquista’”. Eventualmente até será verdade, só que a sê-lo é por aquilo que efectivamente Rui Ramos não escreve, isto é, que dez anos de desaparecimento dão para conferir um certo ar de neutralidade a qualquer acto de ressurgimento, sobretudo pelo não comprometimento com nada nem com ninguém durante esse período. Até vou mais longe: nesse sentido é fácil ser Cavaco Silva. Mais difícil seria ser Presidente da República.
Desde logo a questão de os governos hipotecarem o futuro, ou a tentativa de “salvar o ‘statu quo’ à custa do futuro”. Como todos sabemos, entre 1985 e 1995, no consulado de Cavaco, o controlo do défice era implacável. Não, não é ironia, falo a sério, só que ao contrário: mal o “monstro” descia da casa dos dois algarismos percentuais, accionava-se imediatamente o plano nacional de emergência e, à falta de ideia melhor, enterravam-se algures uns milhões de contos em betão. Estranha forma de não hipotecar o futuro.
Do sebastianismo. Havendo cinco candidatos, não parece estranho a Rui Ramos que se fale de sebastianismo apenas em relação a um deles, curiosamente aquele que na verdade andou dez anos desaparecido e agora pretende ser Presidente da República? Vejamos, também acho que por cá se refere o sebastianismo por dá cá aquela palha, mas a candidatura de Cavaco não é certamente o exemplo mais estapafúrdio para o invocar.
Seguidamente o argumento de que tanto Alegre como Soares agora imitam Cavaco. Um, “de repente, também quer ser independente dos partidos”, e o outro “finalmente compreende, depois de muitos anos, que sem criação de riqueza o Estado Social não sobreviverá”. Não se desse o facto de a candidatura do primeiro ser de facto independente do PS, enquanto a de Cavaco Silva não o é efectivamente do PSD, e de o estado do Estado Social português ter muito a ver com os dez anos de governo do professor, e talvez a ideia funcionasse. Assim é gincana argumentativa.
Pelo meio fica também um estranho entendimento do tempo, que põe no mesmo plano “os choques do dr. Barroso e do eng. Sócrates”, isto é, equipara dois anos e meio de governo Barroso (quase quatro anos de PSD/PP, no total) a pouco mais de seis meses de governação Sócrates. Deve ser porque dá jeito.
Diz ainda que em política, hoje, “quem quiser ser levado a sério tem de ser um pouco ‘cavaquista’”. Eventualmente até será verdade, só que a sê-lo é por aquilo que efectivamente Rui Ramos não escreve, isto é, que dez anos de desaparecimento dão para conferir um certo ar de neutralidade a qualquer acto de ressurgimento, sobretudo pelo não comprometimento com nada nem com ninguém durante esse período. Até vou mais longe: nesse sentido é fácil ser Cavaco Silva. Mais difícil seria ser Presidente da República.
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