Saber da poda
Um bom domínio do tempo narrativo, uma bem urdida teia de flashbacks, um sólido grupo de actores, uma realização segura e um argumento conspirativo mas credível (ou não fosse ele baseado num romance de Le Carré). É assim O Fiel Jardineiro, de Fernando Meirelles. Bastante estimável, portanto. A colagem da estética Cidade de Deus com o ambiente frio centro-norte da Europa origina contrastes que se sentem na pele. A diferença de temperatura desses dois mundos torna-se palpável, materializando-se em muito mais que apenas isso, em muito mais que uma mera amplitude térmica. Meirelles apostou bem nessa mistura de estilos. E deixou marca. Pena que, não se quedando por aí, o próprio filme, por vezes, vá todo ele atrás da pureza algo ingénua da activista Tess (Rachel Weisz). São poucos momentos assim, é certo, mas os suficientes para tornar inconstante um filme que, livrando-se deles, seria um objecto tão pertinente naquilo que teria a dizer como coerente na forma como o diria. Conclusão: o fiel jardineiro até sabia da poda, acordou foi tarde. Fernando Meirelles, esse, ainda vai muito a tempo.
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