Encalhado como dantes
É, sei-o, uma discussão estéril esta que mantenho com algumas pessoas (sobretudo uma mais que outras) vai para quê?, cinco anos?, dez?, uma pipa deles por certo. Saber se Forster é ou não melhor que McLennan, se McLennan é ou não melhor que Forster, ou se estão, enfim, empatados. É coisa de somenos importância, picuinhice de «dolce» ociosidade decerto. Chamem-lhe o que quiserem, mas como todas as obsessões veio, cresceu e deixou-se estar, e como tal é preciso tratar de a pôr andar, até para dar espaço a outras, qu'isto não dá para ter mais de uma dúzia delas ao mesmo tempo. Diga-se porém que não tem sido fácil.
Há no entanto um desenvolvimento recente que ajudou a empatar as coisas. Sim, não é erro, a empatar as coisas e a voltar à estaca zero. É que com os anos tinha crescido em mim uma espécie de certeza aí a 80% que me asseverava que McLennan era muito superior a Forster. Este tinha plantado uma rica série de canções pelos álbuns dos Go-Betweens, é certo, mas as suas melhores pérolas não luziam tanto como as de McLennan. Excepção feita à House do Jack Kerouac e à Part Company, dou de barato eventualmente mais uma ou outra, e a produção de McLennan cobria isto e o resto com a Cattle and Cane (mesmo que aquela voz final do Forster tenha sido uma invenção estupenda para a canção), a Wrong Road ou a sublime Apology Accepted. Ainda assim, há que reconhecer que em 16 Lovers Lane, aquela melancolia de Forster, profundamente enraizada num solarengo amargo de boca saudoso de não sei quê mas que cheira a mulher, marcava pontos, e muitos. Só que os Go-Betweens chegavam ao primeiro fim com esse disco, e não mais haveriam de gravar juntos até 2000.
Como tira teimas restavam os discos a solo. Ora é justamente aí que eu queria ir bater (grande sorte a de tocar neste assunto neste texto caraças!). Bom, andando pois por agora a ouvir incessantemente o primeiro álbum de Forster, dê eu as voltas que quiser, dê o mundo as voltas que lhe apetecer, diga-se o que se quiser sobre esse belíssimo lugar que é Cacilhas, enfim, encham as galinhas as boquinhas de dentes, há uma coisa que é tão certa como o facto de o lusitano Viriato estar morto: a solo, Forster dá um baile a McLennan. Vou até mais longe, o seu primeiro disco, Danger In The Past, vale mais que os quatro discos a solo de McLennan. Não é com dor no peito que o admito, não nada disso, é até com um certo alívio... sim, alívio, alívio por voltar a estar tão encalhado hoje como há dez ou há quinze anos.
Encalhado como dantes, salve-se pois a música, que eu não vou a lado nenhum.
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