sábado, março 18, 2006

Foi mesmo... (um post em diferido, escrito no dia 15 pela hora de almoço, mas sobretudo ainda não tocado pelo encanto da grande urbe moscovita)

O pobre e desgraçado escriba, autor destas descoloridas e miseráveis linhas, escreve-vos neste momento da grande capital russa - essa mesma - a imperial Moscovo. São mais de 10 milhões de almas desenhando os seus quotidianos trajectos numa imensa metrópole enterrada em sujidade até aos tornozelos, essencialmente neve imunda. Ao fim da tarde, grande parte da malta enfia-se em engarrafamentos sem fim e recolhe a passo de caracol à casa que não dá para trazer às costas. A maior parte regressa dos seus empregos enfadonhos, como em qualquer outro sítio, alguns, no entanto, procuram apenas mais umas horas de descanso para poderem voltar já bem frescos, no dia seguinte, à sua actividade preferida: esfolar carteiras a turistas... assim até já só se ver o coiro das ditas.
A estrada que circunda a cidade, chamemos-lhe a 2ª circular cá do burgo (mas mesmo circular), tem só 125 kms de comprimento, o que, a sermos sérios, serve para dar uma ideia da dimensão disto. A Praça Vermelha é, sobretudo à noite, digna de visita. O imenso paredão vermelho e as construções que encerra, tudo intensamente iluminado e contrastando com o aparentemente imaculado (à noite todos os gatos são pardos) manto branco aos seus pés, é espectáculo digno de comer com os olhos uma vez na vida... depois é o costume, aquelas construções de volumetria agigantada, espalhadas por uma cidade onde às vezes, pensa-se, parece que se esqueceram que também cá devia morar gente, tal a ordem de grandeza desses edifícios ou a largura de avenidas emprenhadas de carros até ao umbigo.
Mas pronto, vamos ao que interessa que isto os turistas não passam por aqui para me ouvir patacoadas de viajante sui generis. Vem todo este arrazoado a propósito desta notícia (que entretanto se não verificou). O enterro provisório de Milosevic será em Moscovo. Enterro provisório... Moscovo... subitamente o título de uma notícia é tão certeiro que acerta não só no homem que lhe dá corpo como em toda uma nação, pelas circunstâncias figurada pela gente da sua vastíssima capital. Milosevic vai a enterrar, provisoriamente, por aqui. E ao mesmo tempo, milhões de almas vão a desenterrar, todos os dias, também por aqui... regressam à vida em Moscovo, regressadas dos seus enterros provisórios e sofregamente aspirando todo o ar que conseguem... enterros provisórios em Moscovo... é mesmo... foi mesmo.
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