Postal lunar (de Portugal)
"É verdade que as estruturas organizacionais são ainda muito rígidas e persiste um significativo fechamento de classe na nossa sociedade. O princípio da «meritocracia» que as sociedades ocidentais mais desenvolvidas tanto invocam, ainda não funciona ou funciona escassamente entre nós. Em vez disso, funciona a chamada «cunha» e uma mentalidade algo anacrónica, marcada por traços de servilismo e pelo medo do poder. Esse é, aliás, um aspecto que muito se deve ao peso da igreja católica em Portugal ao longo da história. As relações «clientelares» e o compadrio que prevalece em muitos sectores socioprofissionais e institucionais (inclusive no seio das empresas e dos partidos políticos), são ilustrativos de uma certa forma de paternalismo e dependência face aos poderosos que contribuem para manter o atraso do país. Daí deriva também a falta de autonomia e de sentido de risco dos portugueses. Por isso os nossos níveis de desenvolvimento e de competitividade são tão incipientes em comparação com os países europeus mais avançados. É pois fundamental que as medidas e políticas a pôr em prática tenham em conta, por um lado, a necessidade de reduzir as desigualdades, de incluir os excluídos e proteger os mais pobres, e, por outro lado, dar oportunidades iguais a todos no acesso a recursos, conhecimentos e competências, criando mecanismos de recompensa que premeiem sobretudo o mérito e o esforço de cada um" (Elísio Estanque, sociólogo do CES-FEUC, em entrevista à revista Sábado de 9/2).
Comentários para quê? Quem quiser ler o retrato completo das "Elites e desigualdades sociais em Portugal" pode ir aqui.
3 Comments:
O retrato está perfeito. Da minha experiência na Bélgica e em Itália posso dizer que existe o mesmo funcionamento na sociedade. A referência feita à Igreja católica é uma boa pista. Eu costumava associar a hierarquização e clientelismo ao mundo latino. O que aliás não é falso, estando ele intimamente ligado à igreja católica. No entanto, esta é uma esfera em que não precisamos do Estado para que as coisas comecem a mudar. Cunhas e afins somos "nós" que as damos. E se começássemos a mudar? Obrigada pelo post e pelo link ao estudo em questão.Sofia
Que coincidências, Sofia: tu vives em Bruxelas, eu nasci aí.
O mundo é pequeno, como os lusíadas gostam de dizer. Com uma pequena ajuda da emigração e do exílio, esquecem-se muitas vezes de acrescentar.
Ah, e tens muito bom gosto.
Obrigada pela visita:-) Eu venho aqui ao Fuga muitas vezes, só que silenciosamente. Gosto de vos ler, mesmo quando discordo, às vezes acontece;-)
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