A relação, a relação é que importa
A semana que ora se inicia será o que for, mas não se pode dizer que tenha começado da melhor forma para o governo, com a realização de uma greve por parte da Polícia Judiciária que, consta, obteve níveis de adesão elevados. Já a passada semana foi, no entanto, boa do ponto de vista político. Duas notícias a marcaram positivamente:
1) uma referia o facto de 2005 ter sido, em matéria de cobrança de dívidas fiscais, o melhor ano de sempre. É uma notícia que dá alento e que confere credibilidade ao trabalho e esforços conjuntos de Teixeira dos Santos e Vieira da Silva em matéria fiscal;
2) Maria de Lurdes Rodrigues anunciou mais uma boa medida, que para além de pôr ordem no mercado do livro escolar, o que é bom para a educação em geral, é inequivocamente benéfica para a economia das famílias portuguesas: o facto de a adopção dos manuais escolares passar a efectuar-se para períodos de seis anos implica sem qualquer espécie de dúvida uma poupança efectiva nas bolsas massacradas das famílias que têm vários filhos a estudar. A gratuitidade de manuais escolares para os alunos mais pobres a partir de 2009 é ainda de salutar (vão ouvir-se imediatamente as vozes daqueles que a queriam para ontem - mas eu também a queria para ontem, só que não houve ninguém que a soubesse preparar; portanto, a ser cumprida, será mais um mérito para Lurdes Rodrigues).
Como já se disse, positivas positivas não parecem propriamente ter sido as palavras com que Alberto Costa brindou a eficiência da PJ (mas sublinho a palavra parecem dado que os meandros destas coisas são sempre mais complicados do que a superfície deixa ver). Desde logo não percebo o que possa ter ganho politicamente com elas, nem ele nem o governo que representa. A tarefa ciclópica de modernizar um sector como a Justiça dificilmente se fará em guerra com uma instituição como a Polícia Judiciária. Uma relação sã e de confiança entre o ministro e essa força policial parece-me essencial para poder orientar os eixos da desgastada, pelo menos em termos de imagem, Justiça portuguesa. A PJ não é, aos olhos dos portugueses, a instituição desse sector que menos prestígio tem. Saindo deste caso específico e passando para um plano mais geral, episódios como este recordam-me umas palavras de Mondrian:
«Tudo se estrutura por relação e reciprocidade. A cor não existe senão por via de outra cor, a dimensão é definida pela outra dimensão. É por isso que eu afirmo: a relação é a coisa principal.»
O seu contexto de génese não é exactamente político, mas podem aplicar-se perfeitamente a ela - à política. São pois válidas para qualquer político que se preze, porque acentuam a tónica da relação, crucial para a actividade política, por oposição às grandes soluções completas, com respostas aparentemente simples para tudo (no fundo a antítese dos tempos que correm). Quanto aos portugueses, e segundo as últimas sondagens, que depois de treze meses de governo dão ainda ao PS valores de intenção de voto acima dos 40%, parecem tê-las bem presentes. Um trunfo de Sócrates pois, que importa não desbaratar com episódios laterais.
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